quinta-feira, 31 de julho de 2008

Tudo o que é ruim sempre volta


Quadrinho do cartunista Allan Sieber, responsável pela série "Preto no Branco".

PS: que ódio, a imagem não fica maior que isso! >_<
Clique na figura para abrir em outra aba e enxergar direito...

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Terror para crianças



Hoje eu assisti ao filme "Sweeney Todd: O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet". O subtítulo, apesar de digno daqueles feitos pra brasileiros burros terem vontade de ver filmes cujo títulos não lhes dizem nada, é uma tradução do original.
Não assisti ao filme antigo, já tinha ouvido falar por alto da história, mas não sabia do que se tratava. Só que era um filme do Tim Burton com o Johnny Depp (que surpresa!), e que era um musical.
O filme é legal, mas o duro é que a partir disso que eu disse, e só disso, fica bastante previsível. O clima é bem gótico e pitoresco, no maior estilo do diretor e a atuação de Johnny Depp, como sempre impecável, nos proporciona nada muito além de um Edward Mãos de Tesoura psicopata.
Tinha lido, na época que o filme estava no cinema, que quando a cantoria começava era uma sessão de tortura, porque os atores cantavam muito mal. Não tenho um ouvido musical muito apurado, mas não achei ruim. De fato, até pra minha orelha destreinada, é visível (quer dizer, audível) que a grande maioria dos atores não passaria na audição d'O Fantasma da Ópera, mas passariam pra final do Astros tranqüilamente. =)
Não tenho também experiência com musicais, exceto os desenhos da Disney. Lembro de ter visto só O Fantasma da Ópera, Moulin Rouge e Dançando no Escuro. Comparativamente, Sweeney Todd perde de todos; d'O Fantasma da Ópera pela técnica e pelo brilhantismo de um musical de Andrew Lloyd Webber, de Moulin Rouge pela ousadia de usar músicas atuais e de Dançando no Escuro por infinitas razões (é um dos meus filmes preferidos, então prefiro não comentar). As músicas são um pouco repetitivas, não vi muita diferença de uma pra outra.
A Isabela Boscov (crítica de cinema da veja) disse que a parte cantada era dispensável e tudo poderia ser falado. Não acho; o fato de todo mundo praticamente só cantar o tempo todo ajudou a dar um clima meio surreal que se sustenta no filme, não só pelas brilhantes fotografia, figurino e atuações, mas pela própria história e seus rumos.

Só o que me chateou foi a repetição; pra mim, todos os personagens já haviam aparecido em outras histórias, e pior, interpretados pelos mesmos atores. Aliás, o Richard Harris só não fez o filme porque morreu, já que o elenco todo do Harry Potter estava lá: a Helena Bonham Carter, que eu adoro desde Clube da Luta, não só fazendo o mesmo papel que a cara de louca dela favorece, mas aposto que estava usando até o mesmo figurino da Belatrix Lestrange; o Alan Rickman, que me deu muita vontade de rir quando disse aquele "Mr. Todd!" com exatamente o mesmo tom em que disse "Mr. Potter!" na primeira aula de Poções; sem falar no Timothy Spall, fazendo pela enésima vez o papel de capanga do mal e burro.
A história é todinha bem previsível e o final não tem nada de fantástico.
Mas, apesar disso tudo, eu não odiei o filme; na verdade, achei até bem legal. Provavelmente vou favoritar no imdb e dar nota 6 ou 7. Se você não tiver preconceito com musicais, talvez goste; se for fã da dupla Tim Burton/Johnny Depp, vai ter orgasmos. De qualquer forma, acho que vale a pena assistir (é só me trazer um CD virgem, está em dvdrip legendado em português, 700Mb).

Mas a impressão que o filme me deu, no final das contas, não sei se por ser um musical ou se pelo tom de conto de fadas que perpetua, é que é um filme de terror pra crianças. Imagino que se eu tivesse visto esse filme há uns 10 anos, com certeza teria sido um dos meus preferidos, pois não teria percebido nenhum de seus defeitos e teria sido muito superior à maioria dos filmes de criança que eu já tinha visto. Fora que eu sempre gostei de uma carnificina e de um final trágico quando era mais novinha.
É que acho que, também, assistir a um filme sobre vingança que tenta te chocar de alguma forma depois de ter assistido a Oldboy, faz com que até o Conde de Monte Cristo pareça um conto de fadas um pouquinho menos censurado.
Só imagino que talvez a minha mãe achasse o filme meio horrível pra mim na época, e eu não teria assistido de qualquer jeito. Apesar de que pensando bem, hoje em dia não sei se as crianças gostariam de Sweeney Todd. Afinal, Os Simpsons já está passando na TV Globinho, então imagino que as crianças acabariam achando o filme uma grande piada, e iriam ver o próximo Jogos Mortais com os coleguinhas depois.
De qualquer forma, vou assistir de novo com os meus filhos e testar a hipótese. =D

terça-feira, 29 de julho de 2008

Trânsito em São Paulo (ok, o título é um pleonasmo)

Com a proximidade da volta às aulas, a perspectiva de voltar de Campinas às sextas de noite, pegando a Marginal Tietê todinha, de lá da Anhangüera até a Dutra, o velho problema do trânsito em São Paulo volta a me incomodar.
A diferença no trânsito agora e há 3 ou 4 anos atrás é assustadora! A margem dos horários de pico parece ter aumentado bastante na Marginal: antes acho que era mais ou menos das 6h às 9h, por volta do 12h e das 17h às 20h; agora é tipo... das 6h às 23h, initerruptamente.
O número de carros nas ruas aumentou e ainda está aumentando muito. Imagino que daqui a uns 5 anos, vai ser virtualmente impossível andar de carro em São Paulo.
Acho que daqui a um tempo várias medidas que parecem impensáveis hoje acabarão tendo que acontecer, como limitar o número de carros por família (por exemplo, permitindo no máximo um caro pra cada 2 ou 3 pessoas; se você quisesse comprar outro carro, teria que provar a impossibilidade de ir com outro membro da família ou por outro meio de transporte) ou ampliar o rodízio para carros pares e ímpares, ou até de forma mais radical, como se está pensando em fazer em Pequim durante as Olimpíadas: segunda-feira só rodam os carros de placa 0 e 1; terça, só 2 e 3; e assim por diante.
O problema é que, em muitos casos, o carro acaba sendo uma libertação de um martírio diário, que é acordar mais cedo, andar até o ponto, esperar por um ônibus invariavelmente lotado até o metrô, empurrar-se pra dentro do trem (depois de deixar passar uma meia dúzia de metrôs, se você pega a linha vermelha), esgueirar-se pra porta pelo menos duas estações antes - senão não consegue descer - e andar até o trabalho/faculdade (se não tiver que encarar outro busão antes - viva o bilhete único!), onde você já chega suado, cansado e de mau-humor, possivelmente acometido por um daqueles benditos cujo desodorante venceu há milênios (principalmente se você pega a linha vermelha!). Estou deixando de fora aqui o pobre proletário que pega TREM pra sair de casa, porque esse é guerreiro mesmo, enfiando-se em vagões mais lotados e com mais gente fedida que a nossa já difamada linha 3, já que não pode esperar o próximo trem, que só vai passar dali a uns 15min. Mas pelo menos ele pode comprar uma variedade muito maior de ítens dos ambulantes, que para os usuários do metrô praticamente se resumem a balas e chicletes, mas na CPTM já evoluiu pra bolacha, salgadinho, alface, livrinhos pra colorir e televisores de 14".

Ok, acho que está explicado porque, a não ser que você seja masoquista ou molestador e encontre nas situações acima uma oportunidade fantástica, ou simplesmente não tiver grana pra ter um carro e arcar com suas despesas, todo mundo prefere ir aos lugares de carro.
Provavelmente isso não seria tão acentuado, evidentemente, se a situação do transporte público melhorasse, colocando mais ônibus nas linhas, principalmente em horário de pico, mais corredores de ônibus, mais estações de metrô (quem sabe a linha amarela não ajuda um pouco?). Porque realmente, se não fosse um inferno usar transporte público todo dia, como de fato é dependendo do itinerário, quem não preferiria gastar os R$5,00 de ida e volta (uhu, bilhete único! ) a gastar isso com estacionamento (se você conhecer um muito barato), fora a gasolina, o estresse de ir dirigindo, IPVA e seguro?
Enquanto esperamos que melhorem o transporte público (o Maluf disse que na época dele o trânsito não era assim, e que se ele fosse eleito, ia resolver o problema), algumas outras iniciativas podem ser tomadas, como dar e pegar carona, o que é uma solução vantajosa pro motorista (se cobrar dos amiguinhos o valor do ônibus, ou a gasolina dividida por todo mundo) e pro carona, que escapa do busão lotado.
Alguns incentivos ajudam nesse caso, como as faixas exclusivas pra carros com mais de duas pessoas (o que eu acho genial) e a criação de grupos de e-mails ou sites de empresas, faculdades ou mesmo bairros com o intuito de colocar em contato pessoas que compartilham o mesmo itinerário e não sabem(como é o caso do site Caronas Unicamp, que já foi super elogiado em tudo quanto é jornal).


Enquanto isso, continuo dando graças por estudar e morar, durante a semana, em Campinas, a 10min à pé da faculdade, e por só encarar esse trânsito todo na sexta, na hora de voltar pra casa.
Aliás, eu levo 1h20 de carro e 3h de ônibus de casa até a Unicamp. Se eu estudasse na USP, aposto que levaria a mesma coisa, isso se não tivesse, claro, nenhum acidente no caminho!

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Lapsus

Vídeo legal que participou do Animamundi desse ano:

http://br.youtube.com/watch?v=fFtXW7veUnc

Pena que eu não pude ir...
Como eu tinha dito, julho é um mês ingrato, e fim de semana passado eu queria ir ao Animamundi e ao Animecon, e acabei indo à praia! rs

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Por que não ler só por ler?

Esse mês eu fui no EiRPG (Encontro Internacional de RPG).
Aliás, adoro julho; tudo acontece em julho. A pior coisa de julho é que eu tenho que escolher o que fazer, sempre tem mais de uma opção para o mesmo fim-de-semana.
Voltando, eu fui no EiRPG e vi uma palestra do André Vianco, autor de Os Sete e Sétimo, e, se não o melhor escritor brasileiro de terror, o mais bem-sucedido. Ele contou que escreve 4 páginas por dia, todos os dias, o que faz com que ele consiga ter um romance publicado a cada 6 ou 8 meses. Disse também que ele está pouco se lixando pra quem acha que o que ele faz não é Literatura, que autor de verdade é aquele que escreve um livro a cada 5 anos. "Eu pago as minhas contas com os livros que eu escrevo, vivo bem e viajo duas vezes por ano com toda a minha família só com esse dinheiro. Pra quem era operador de telemarketing, pra mim isso é um sonho."
Acho muito injusto quem acha que "Literatura" é só arte. Pra mim, Literatura é saber contar histórias. Considerar que não vale a pena ler certos livros só porque estão na lista dos mais vendidos me soa como um pseudo-intelectualismo meio infantil.
Quer dizer que cinema é só David Lynch, Lars von Trier e Almodóvar? Só porque é Hollywood não é cinema? Pode ser que não seja um cinema artístico, mas é cinema, se cinema for contar uma história usando uma câmera. Desprezar o Cinemark e ir só no Espaço Unibanco pro resto da vida me parece, afinal, uma perspectiva muito chata. (Na verdade, do último filme do David Lynch a que eu tentei assistir, não entendi nada.)
Com Literatura acho que é mais ou menos a mesma coisa: Adoro o Neil Gaiman e o Stephen King, mas pelo talento de contar histórias, e não pelas habilidades artísticas. Só porque uma coisa é feita para vender, não significa que seja ruim. Alencar e Machado de Assis ganharam bastante dinheiro escrevendo o que hoje todas as tias Marocas mandam a gente ler na escola, mas que na época era publicado como novelas em jornais.
Leio Saramago, sim, mas levo um tempão pra terminar um livro dele. Agora se você for me dizer que O Código da Vinci ou O Caçador de Pipas, que são ambos livros sem complexidade estilística nenhuma (nenhuma frase tem mais de três linhas e nenhum parágrafo tem mais de oito), são livros ruins só por isso, sinto muito em ter que discordar.
São livros que cumprem muito bem seu papel como entretenimento, que contam histórias interessantes de um jeito que te prende (típicos livros que se lê 'em uma sentada').
Eu sinceramente admiro esses autores que conseguiram realizar, pelo menos em parte, um sonho que Monteiro Lobato nunca viu concretizado, que são milhares de brasileiros que, ao invés de assistirem à TV Minuto no metrô, voltam pra casa lendo um livro de mais de 300 páginas!
(Aliás, desculpe, sr. Lobato, mas Harry Potter é muito mais divertido do que o Sítio do Pica-Pau Amarelo!)

terça-feira, 22 de julho de 2008

Conversa de cabelereiro

Semana passada eu fui ao cabelereiro.
Entre todas aquelas discussões profundas que se escuta por lá, acabei ouvindo uma que me fez pensar em como as pessoas são hipócritas.
Era sobre o velho tema da violência:

- Outro dia pegaram uns caras que tinham roubado um carro aqui na rua e o PM amigo meu falou que os cara saíram com mão na cabeça e tal, mas que eles mandaram os cara deitar no chão e metero bala ali mesmo, depois disseram que teve troca de tiro.
- É, tem que ser assim mesmo. Uns amigos meus também, um tempo atrás, numa ronda, pararam um carro, acharam estranho, foram abrir o porta-malas e tava o dono do carro lá, todo cagado. Um homem trabalhador não precisa passar por uma humilhação dessas não. Mataram o primeiro e o segundo ficou em estado de choque, só começou a gritar quando começou a derreter porque os cara colocaram ele no microondas, sabe, aquele monte de pneu e taca fogo.

E a conversa foi longe, sempre no teor "É, tem que ser assim mesmo", "Os cara tem que saber quem é que manda", "Se não fizer isso, amanhã ou depois pega alguém da sua família", e por aí vai.

Acho incrível a falta de capacidade de raciocínio dessas pessoas. Será que o policial que sai atirando em gente por aí é um herói justiceiro fazendo bem mais do que o lixo de salário que ele recebe paga ele pra fazer? Ou será que ele faz isso por um apreço pela violência tão grande quanto o do bandido, que às vezes foi o próprio motivo que levou o cara a procurar a profissão?
Será que os fãs do Capitão Nascimento não enxergam que esses policiais despreparados e com atitudes impulsivas e violentas são exatamente os mesmos que mais cedo ou mais tarde acabam metralhando carros de família por aí e matando crianças, como aconteceu mais de uma vez esse mês?
Será que eu quero colocar na mão de um cara despreparado que ganha R$1500 por mês a função de PM, promotor, juíz e carrasco?
Será que é mais conveniente simplesmente esquecer que o cara que levou os tiros no chão é filho de alguém, marido de alguém, pai de alguém?

Ah, e voltando à hipocrisia que eu tinha falado no começo. É engraçado ver como as pessoas (como quem estava discutindo isso no cabelereiro) que apóiam essa aplicação informal da pena de morte e têm tanta facilidade pra esquecer que o bandido, por pior que seja, é um ser humano que não merece ser julgado em alguns segundos, casam-se e batizam seus filhos na Igreja Católica Apostólica Romana e andam com o adesivinho da nossa senhora na traseira do carro.
(A Igreja Católica foi só um exemplo, porque lembro do batizado do filho do cara, não ficaria mais surpresa se ele fosse Crente ou sei lá. Não tenho nada contra a Igreja; na verdade, tenho muitas coisas, mas não vêm ao caso nem é momento de discutí-las. )

PS: eu ia mandar outro link, do caso do menino de 3 anos que morreu no RJ no começo do mês, mas no site, do lado da foto dos pais da criança chorando e do carro baleado, tinha um videozinho de umas gostosonas de pompom dançando animadas pra anunciar o fantástico novo carro da Fiat, e eu não quis compartilhar a experiência.

Ah, a propósito, o cabelo ficou ótimo!

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Why so serious?


"Robin, você me mandou tomar no cu? Eu não acredito no que ouvi, não pode ser verdade isso que eu escutei agora! Você é um menino ainda, Robin, eu te criei!"

Sexta feira eu fui ver o filme novo do Batman.
Tudo bem, Batman Begins é bem legal, fizeram uma reforma completa no herói que usava mamilos na fantasia e andava com o viadinho do Robin pra cima e pra baixo. Aprofundaram a história, colocaram ele pra fazer treinamento ninja, umas roupas e uns carros muito mais estilosos e agradaram o público bem mais do que os filmes antigos, chegando à colocação 102º no Top 250 do imdb.
Mas nada me preparava pro que viria a ser O Cavaleiro das Trevas. Tudo bem, eu sabia que tinha gente dormindo na fila pra ver o filme, ouvi falar que o Heath Ledger ficou um mês trancado num quarto de hotel escrevendo o diário do Coringa pra chegar na sua interpretação, vi o trailer e achei que devia ser legal mesmo. Mas o filme é DO CARALHO (desculpe, mas não vejo como descrevê-lo de maneira fiel sem um palavrão).
Não é só um filme do Batman que superou todos os outros filmes do Batman, é um filme muito bom, com cenas de ação bem feitas e de tirar o fôlego (ok, um pouco forçadas, mas nada que prejudique o senso de realidade) e um clima tenso que se consagra com a trilha sonora e a performance dos atores (todos trabalham muito bem, mas é que só se fala no Ledger porque ele realmente reduz o Jack Nicholson da primeira versão a um palhaço).
Se eles transformaram o Batman num herói fodão em Batman Begins, nesse filme cria-se um vilão à altura, que se parece mais com o assassino de "Jogos Mortais" do que com o Coringa do filme de 1989. O Coringa de Ledger é um "agente do caos", capaz de passar essa mensagem ao espectador não só nas excepcionais atuação e caracterização, mas pelos próprios rumos niilistas que o enredo vai tomando (é difícil um filme em que os mocinhos se dão tão mal, a toda hora).
Bem, se você não viu o filme, desencane de tudo o que eu disse - eu não li nenhuma crítica antes de ir ao cinema, então não deixe que a minha quase adoração ao filme faça com que você vá com expectativas exageradas e acabe se frustrando; faça como eu, vá só ver o filme do Batman - e você não se arrependerá.

Aliás, O Cavaleiro das Trevas está, para minha surpresa, em primeiro lugar no imdb, com 70mil votos conferindo-lhe uma média de 9,6 de 10. Bem, eu não acho que esse seja o melhor filme do mundo, mas também não acho que O Poderoso Chefão seja, então tudo bem...
Ah, e desculpe pelas referências exageradas ao imdb, é que eu acho um site realmente fantástico, e os filmes com notas altas geralmente valem a pena de se assistir (apesar de haver alguns vieses, como acho que é o caso desse 1º lugar dado ao filme do Batman).

Bem-vindos!

Oi! Eu sempre quis escrever um blog, mas por razões de preconceito, falta de tempo, preguiça ou falta de assunto, acabei demorando alguns anos pra colocar essa idéia em prática.
Minha idéia é falar sobre cinema, teatro, Literatura, Psicanálise, anime ou qualquer outra inutilidade que me der vontade.

Também quero postar alguns desenhos meus, já que eu não tenhgo um deviantart pelas mesmas razões por que não tinha começado um blog até agora.

Sobre o título, sei que é idiota e politicamente incorreto (deveria ser Borboleta Afrodescendente), mas tirei do 31º capítulo de "Memórias Póstumas de Brás Cubas", genial como tudo o que Machado de Assis escreveu, que eu cito a seguir na íntegra.
Obrigada por perder o seu tempo lendo o que eu tenho a dizer!


Capítulo XXXI - A Borboleta Preta

No dia seguinte, como eu estivesse a preparar-me para descer, entrou no meu quarto uma borboleta, tão negra como a outra, e muito maior do que ela. Lembrou-me o caso da véspera, e ri-me; entrei logo a pensar na filha de Dona Eusébia, no susto que tivera, e na dignidade que, apesar dele, soube conservar. A borboleta, depois de esvoaçar muito em torno de mim, pousou-me na testa. Sacudi-a, ela foi pousar na vidraça; e, porque eu sacudisse de novo, saiu dali e veio parar em cima de um velho retrato de meu pai. Era negra como a noite. O gesto brando com que, uma vez posta, começou a mover as asas, tinha um certo ar escarninho, que me aborreceu muito. Dei de ombros, saí do quarto; mas tornando lá, minutos depois, e achando-a ainda no mesmo lugar, senti um repelão dos nervos, lancei mão de uma toalha, bati-lhe e ela caiu.

Não caiu morta; ainda torcia o corpo e movia as farpinhas da cabeça. Apiedei-me; tomei-a na palma da mão e fui depô-la no peitoril da janela. Era tarde; a infeliz expirou dentro de alguns segundos. Fiquei um pouco aborrecido, incomodado.

- Também, por que diabo não era ela azul? disse eu comigo.

E esta reflexão, - uma das mais profundas que se tem feito, desde a invenção das borboletas,- me consolou do malefício, e me reconciliou comigo mesmo. Deixei-me estar a contemplar o cadáver, com alguma simpatia, confesso. Imaginei que ela saíra do mato, almoçada e feliz. A manhã era linda. Veio por ali fora, modesta e negra, espairecendo as suas borboletices, sob a vasta cúpula de um céu azul, que é sempre azul, para todas as asas. Passa pela minha janela, entra e dá comigo. Suponho que nunca teria visto um homem; não sabia, portanto, o que era o homem; descreveu infinitas voltas em torno do meu corpo, e viu que me movia, que tinha olhos, braços, pernas, um ar divino, uma estatura colossal. Então disse consigo: "Este é provavelmente o inventor das borboletas". A idéa subjugou-a, aterrou-a; mas o medo, que é também sugestivo, insinuou-lhe que o melhor modo de agradar ao seu creador era beijá-lo na testa, e beijou-me na testa. Quando enxotada por mim, foi pousar na vidraça, viu dali o retrato de meu pai, e não é impossível que descobrisse meia verdade, a saber, que estava ali o pai do inventor das borboletas, e voou a pedir-lhe misericórdia.

Pois um golpe de toalha rematou a aventura. Não lhe valeu a imensidade azul, nem a alegria das flores, nem a pompa das folhas verdes, contra uma toalha de rosto, dous palmos de linho cru. Vejam como é bom ser superior às borboletas! Porque, é justo dizê-lo, se ela fosse azul, ou cor de laranja, não teria mais segura a vida; não era impossível que eu a atravessasse com um alfinete, para recreio dos olhos. Não era. Esta última idéa restituiu-me a consolação; uni o dedo grande ao polegar, despedi um piparote e o cadáver caiu no jardim. Era tempo; aí vinham já as próvidas formigas... Não, volto à primeira idéa; creio que para ela era melhor ter nascido azul.

(fonte)