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Mas, como eu disse, vi o filme deve fazer um mês, mais ou menos na época da estréia, mas não escrevi nada aqui. E não foi pelo meu gosto estranho de fazer resenhas de filmes velhos, ou que todo mundo já viu, como eu fiz com Sweeney Todd; é que esse filme me ajudou a desfazer um velho preconceito que eu tinha contra o Woody Allen, e eu pretendia fazer uma mega resenha falando de vários filmes dele.
Claro que, como todas as minhas idéias megalomaníacas de posts absurdos, não deu muito certo. Mas voltemos ao que deu certo. O primeiro filme do Woody Allen que eu vi foi O Escorpião de Jade, um filme bobinho, mas engraçadinho. Mas a maioria das pessoas que eu conhecia diziam que ele era um chato, todos os seus filmes eram chatos ou o odiavam por seus escândalos amorosos (convenhamos que largar a esposa para se casar com a filha - mesmo adotiva - dela não é algo muito aceitável socialmente, pra dizer o mínimo).
Mas aí veio o Match Point, um filme brilhante, na minha opinião. Inteligente, forte, criativo, (des)humano, cheio de reviravoltas.
Depois desse, nem Melinda e Melinda nem Scoop chamaram minha atenção, e acabei nem assistindo.
E Vicky Cristina Barcelona não me levou ao cinema por muito mais do que uma crítica favorável e uma simples vontade de ir ao cinema (era ou esse, ou 'Queime Depois de Ler', que estava passando em tudo que era cinema).
O filme me surpreendeu, e eu resolvi que gostava, sim, do Woody Allen, e que ia alugar uma porção de filmes dele pra escrever um post sobre seu trabalho. Fui querendo pegar "Dirigindo no Escuro", mas estava locado e acabei levando "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa". Não que o título tivesse me chamado a atenção, a não ser por ser um desses claros exemplos de como os tradutores brasileiros vão muito além de seu trabalho de traduzir ou, no máximo, adaptar, e põem pra trabalhar toda sua veia artística e criativa - afinal, quem iria alugar um filme chamado "Annie Hall" se podemos transgredir totalmente a intenção do autor e dar o título mais idiota que nos vem à mente?
Acontece que quando eu terminei de ver o filme, percebi que seria uma bobagem alugar uma porrada de filmes do Woody Allen e assistir de uma vez, como se fosse Star Wars. Enquanto a maioria dos filmes se limita a seus 90 a 120 minutos e algum comentário posterior, esse era um filme pra ser lembrado, percebido, apreciado, desses que continuam na sua cabeça por horas ou até dias depois que você terminou de ver. Match Point, por exemplo, teve esse efeito em mim; e Annie Hall também.
Neste filme de 1977 conhecemos o atribulado relacionamento de Alvy Singer (Allen), um comediante pessimista que faz análise há 15 anos, e Annie Hall (Diane Keaton), uma cantora jovem e quase tão complicada quanto ele. No começo do filme, após um brilhante monólogo com o espectador, Singer nos conta que eles terminaram, e o restante do filme passa por seus desencontros e paixões, passeios e cursos, discussões e lagostas. Um roteiro digno de uma comédia romântica dessas com o Ben Affleck ou a Meg Ryan, não fossem os diálogos fantásticos e certas cenas deliciosas, como a do jovem Alvy na escola, a da fila do cinema ou a famosa cena em que ele pede a Annie para não fumar maconha antes de transar.
O resultado é um filme bem acima da média, que rendeu uma porção de oscars - inclusive o de melhor filme - e que proporciona ao espectador algumas boas risadas, outras reflexões pessimistas e uma visão leve e bem-humorada, mas que ainda assim não deixa de ser amarga da vida e dos relacionamentos.
O desfecho salva o filme da idéia de comédia romântica de que o "viveram felizes para sempre" está ligado ao fato de o mocinho e a mocinha ficarem juntos no final - o que é condizente com um personagem que se apresenta com esse texto: