sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Doutor Fantástico

Peter Sellers 1

Tudo bem, o título do filme é desses que não fazem sentido, que criam um tipo de anti-clímax. Você fica achando que o tal doutor Fantástico deve ser super importante no filme e não tem nada a ver. Fora a tradução, que apesar de bizarríssima não teria saído nada muito melhor se traduzissem ao pé da letra. Claro que de onde tiraram essa adaptação de significado pra mim sempre será uma incógnita, e daí a eterna beleza do poder criativo dos tradutores lusófonos sempre colocando uma palavrinha ou subtítulo, verdadeiras obras de arte.
Bem que podiam ter deixado no original: Dr Strangelove or: how I learned to stop worrying and love the bomb. podíam até ter traduzido a segunda parte que ia ficar melhorzinho.
Mas enfim, vamos ao filme. Os motivos pelos quais eu decidi que ia gostar do filme, sem ler uma sinopse sequer eram: é um filme do Kubrick; está no top dos top do imdb (28º, quase 20 posições acima da Laranja Mecânica), é um clássico, deve ser bom.
Por que o filme é realmente bom: primeiro tem a fotografia, que é primorosa e bastante acima do nível do que se produzia na época. Segundo tem a temática, e principalmente o contexto na qual está inserida; e terceiro, o jeito como ela é mostrada.
Estamos falando de um filme sobre a guerra fria, bem no meio dela. De um período crítico em que os americanos se cagavam com a perspectiva dos mísseis em Cuba e na Rússia, e a população nem sempre aceitava muito bem ideias de fim do mundo ou holocausto nuclear pela própria perspectiva tão próxima dos fatos. E aí o Kubrick estava pensando em fazer uma adaptação séria de um livro de sucesso na época sobre a guerra, cheio de tensão pela disparada acidental de mísseis esquentando a corrida armamentista e percebeu o quanto aquilo tudo era idiota, e que nada poderia sair dali além de um filme de humor, ora.
Peter Sellers 2

E que filme! Não chego a dizer que é uma comédia, você fica mais na risada interna, enxergando a crítica que não é exatamente sutil, como se vê pelos próprios nomes dos personagens, mas que tem momentos que chegam a ser sublimes, como quando a paixão do povo americano pela Coca-Cola seria um fator importantíssimo para, literalmente, salvar o mundo. A base da tensão cômica acaba saindo mesmo dos diálogos, todos muito bem elaborados pra extrair o máximo das marcantes (e estereotipadas) personalidades em conflito. Mesmo o presidente russo que só se faz ver nas réplicas por telefone acaba tendo uma figura imaginária basante marcada, e igualmente caricata.
E então vem o quarto fator, que são as atuações. Todas muito boas, incluindo a de George C. Scott como o típico militar anti-comunista e Slim Pickens como o piloto texano patriota em sua mais pura definição. Claro que é ponto pacífico deixar por último o cara que teria feito o filme valer pena ser visto ainda que fosse ruim – e olha que Peter Sellers só assumiu três dos quatro papéis que tinha sido escalado para fazer no filme. Não dá pra dizer que suas atuações, tão distintas e bem caracterizadas não fizessem valer seu cahê de metade do orçamento do filme: o ator acabou não interpretando o major texano, mas brilha como o extremamente racional presidente dos EUA, Merkin Muffley, o capitão britânico (e que sotaque!) que tenta salvar o mundo com sua capacidade argumentativa, apesar do azar que o perseguia, e, finalmente, do inigualável dr. Strangelove. Sua figura estilosa (e estranhíssima), na cadeira de rodas propondo uma instituição poligâmica para perpetuar a humanidade enquanto sua mão apráxica insiste em saldar o III Reich é, no mínimo, memorável, e bastante emblemática da situação, em que parece que uma loucura, mas dessas bem psicóticas mesmo, vinda de um personagem como ele pode parecer a única solução para pessoas ou situações geradas nesse caos. É, talvez ele merecesse mesmo o título do filme.
Peter Sellers 3

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Revisitando Tolstói

Nem sempre quando lemos um autor estamos preparados para fazê-lo, e nem sempre quem se precipita na hora de introduzir um grande nome da Literatura em nossas vidas é a tia Marocas, muitas vezes somos nós mesmos. Quando somos jovens e gostamos muito de ler, temos uma tendência a sermos atraídos por nomes interessantes de livros de nossos pais e avós, e depois que começamos a estudar Literatura, os autores antes desconhecidos começam a nos atrair também. Foi essa dupla atração que me levou a pegar Guerra e Paz para ler quando eu devia estar no colegial. Bem, foi um pouco cedo demais pra mim, e as descrições um tanto longas, a história girando em torno de enfadonhas relações sociais da nobreza e o amontoado de esdrúxulos nomes russos que me faziam não lembrar direito qual personagem era qual me fizeram deixar o livro de lado antes da metade (o que acaba sendo o destino da maioria dos livros que eu começo, ou mesmo da maioria das coisas na minha vida).
Então, há pouco mais de um mês, a Fabi me deu de presente de aniversário (muito
pontual, por sinal, já que meu aniversário é em janeiro) um livro de bolso do Tolstói, com duas novelas, A Felicidade Conjugal (nome sugestivo que fez com que ela escolhesse o livro pra mim) seguida de O Diabo (bem, uma coisa deve ter a ver com a outra, não é mesmo). Pra variar, comecei a ler e acabei deixando o livro de lado um mês, e tudo indicava que ele teria o mesmo destino triste de seu antecessor, até um belo dia em que tomei um baita chá de cadeira e estava com o livrinho na bolsa – e acabei lendo de uma tacada só.
O livro é da L&PM Pocket, e tem uma tradução muito boa direto do russo, com um prefácio da própria tradutora que além de nos dar um resumo um tanto apaixonado da vida e obra do autor, dá uma explicação excelente quanto àquele problema que eu referi anteriormente – o dos nomes em russo. Ao invés de parecerem nomes estranhíssimos que não fazem sentido, viram nomes estranhíssimos (eu continuo achando que não colocaria o nome da minha filha de Stepanida) com alguma lógica, você entende o que é nome, sobrenome, apelido, título e também aprende um pouco sobre a pronúncia. Por exemplo, como eu poderia saber que Kátia, Kátienka, Katiucha e Katka são variaçoes, mais ou menos pejorativas ou carinhosas do mesmo nome, Katerina?


A Felicidade Conjugal foi uma novela que Tolstoi detestou depois de ter entregue ao editor, e é de 1859, quando ele estava com 31 anos (faz parte de sua primeira fase). Apesar de não ser mesmo nenhuma obra-prima, demonstra uma capacidade incrível de narrar a partir do ponto de vista feminino e de desenhar a evolução de uma história de amor, desde as paixonites adolescentes, o casamento, a sensação de unidade com o outro e de dependência total para a felicidade, o distanciamento, a sensação de que o amor morreu, de que nada nunca mais será como antes. Apesar de ser uma visão meio pessimista da vida conjugal em si (como eu não poderia deixar de achar, afinal, sou uma jovem noiva – e portanto tenho que ter um quê de romantismo ainda), acredito que todo mundo que já teve uma relação longa é capaz de se identificar perfeitamente com o rumo da situação do casal protagonista. Afinal, por mais que o amor perdure, a paixão tem seus altos e baixos, e muitas vezes acaba mesmo, sem mais nem menos ou bem aos poucos, praquela pessoa antes idealizada e que agora nos parece real e cheia de defeitos; e no luto por essa perda, se confunde muito o que é paixão e o que é amor, até que se redescubra uma outra coisa imaginária para se apaixonar, seja na pessoa amada, seja em si mesmo, seja nos filhos – e completar de novo aquele espaço vazio.
Como eu prometi que não escreveria mais posts enormes e esse aqui já está bem grande, logo escrevo outro sobre o outro conto e sobre a vida e os ideais do autor, bastante presentes nas entrelhinas da história.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Shakespeare na Globo

Na época de férias, a Globo sempre cosuma passar minisséries de noite, mas ultimamente não vinha acertando na mão. Aliás, desde Hoje é Dia de Maria, que foi surpreendente desde o visual até a atuação incrível da manina Carolina Oliveira (porque não é surpresa nenhuma que Letícia Sabatella, Rodrigo Santoro ou Fernanda Montenegro fossem brilhantes), não tínhamos nada de muito bom.
Essas séries costumam ter uma qualidade superior à das novelas exibidas em horário normal, pois têm um orçamento mais gordo, uma direção mais caprichada e não dá tempo de enjoar dos personagens, já que a coisa não se arrasta pelo ano todo. Mas as últimas séries, apesar de alguns pontos positivos, estavam deixando muito a desejar; lembro de Queridos Amigos (que tinha um elenco legal, mas uma história manjada e fraquinha), de Maysa (que teve a infelicidade de se importar mais se os atores se pareciam com as pessoas na vida real do que se sabiam, de fato, atuar) e de Ó Pai, ó (sem comentários).

Agora, desde que começou a passar a propaganda dessa nova série, além da musiquinha feliz, o elenco foi a primeira coisa que me chamou a atenção: Andréia Beltrão, Felipe Camargo, Pedro Paulo Rangel, Maria Flor, Daniel de Oliveira e Rodrigo Santoro, isso pra citar só os meus preferidos entre os nomes. Imagino que um elenco desse faria uma minissérie que valeria minha audiência nem que fosse dirigida pelo Jorge Fernando - mas aí qual não foi minha surpresa quando vi que a direção era de ninguém menos que do Fernando Meirelles.

Não escondo de ninguém que acho ele brilhante, e não me ressinto do fato de ele fazer essas séries morninhas por aqui ('Cidade dos Homens' também era dele) e seus filmes fodões em inglês, inflando nosso orgulho verde e amarelo nas premiações por aí.

"Som e Fúria" é composta de 12 capítulos que contam as desventuras de um grupo de teatro que tenta se organizar para encenar Shakespeare e conseguir verba do Ministério da Cultura enquanto um ex-ator maluco assume a direção do espetáculo após a morte do diretor passado, que entretanto insiste em voltar do além para atormentá-lo. No elenco estão todos os estereótipos, a diva que adora um barraco, o ator de novela das 7 que trabalha mal, o diretor vendido que adora rechear sua fala com expressões em inglês e a mocinha que só consegue papel de substituta.


Nesses dois primeiros capítulos, nada me decepcionou, o que é um ponto positivo, já que eu estava esperando bastante mesmo. O humor poderia ser um pouco mais sutil, por exemplo: acho ótimo o cara morrer atropelado por um caminhão de presunto, mas não precisam ficar repetindo isso toda hora, tipo pra quem perdeu a cena ou não entendeu de primeira. Mas também não é nada escrachado, e como o elenco é ótimo, as cenas de comédia acabam fazendo jus. Pouca coisa me surpreendeu de fato, mas uma coisa muito interessante foram os personagens secundários, que ao contrário de serem ofuscados pelo elenco de grandes nomes nos papéis principais, têm grande qualidade e acabam dando um destaque especial à secretáia, ao porteiro, aos funcionários da funerária, etc.


Meirelles justifica passar uma série inspirada em Shakespeare na TV com o fato de que ele era um autor popular em sua época, e seus textos acabaram inacessíveis mais pelo fato de seu linguajar ter ficado ultrapassado do que pelo seu conteúdo, de fato, que é inegavelmente universal e atemporal. Mas não vamos esquecer que isso não é ponto para um possível brilhantismo inovador do diretor, já que trata-se de uma adaptadação de uma série Canadense ('Slings And Arrows'), então o sucesso já fica mais garantido - afinal a Globo não dá ponto sem nó, né? Vou continuar acompanhando pra ver no que vai dar, quem já perdeu os primeiros episódios e quer dar uma conferida, tem tudo no Youtube, pra variar.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Para os Muambeiros de Plantão

É, vida de brasileiro pobre é mesmo dura. Quando você quer comprar uma coisa, pesquisa pra caramba na internet, descobre que tudo nesse país é superfaturado e que em sites estrangeiros, mesmo em dólar é tudo bem mais barato; fica feliz da vida de achar o que você queria e mais um monte de tranqueira que simplesmente não existe por aqui e aí, na hora de calcular o frete quase cai pra trás - isso se o site mandar aqui pra terrinha verde e amarela. E se você ainda está cogitando comprar o que quer que seja, deve ser porque ainda não se tocou do imposto a ser cobrado em cima do valor do produto (e não é em cima daquele precinho estrangeiro não, é sobre o produto equivalente nacional).
Pois uma opção, direto da China que, ao contrário da maioria dos sites estrangeiros, não é prejuízo na certa é o Deal Extreme.
Bicho que cochila na privada, movido a energia solar - $8,35

O site é cheio de coisas originais ou piratas para todos os gostos e bolsos, e, como eu sou uma pessoa inútil por excelência, passei horas escolhendo dezenas de coisas praticamente sem nenhuma razão prática de ser, mas que pretendo comprar logo logo.
Não sei se o site é confiável o suficiente pra comprar tipo um notebook, mas a grande vantagem é que se você quiser comprar algumas coisas de menos de 1 dólar pra testar se chega na sua casa, o frete é grátis. Isso mesmo, o frete é grátis para qualquer valor e qualquer lugar, então você só precisa se preocupar com a conversão de dólar pra real e com a possibilidade de pagar imposto caso sua compra pare na alfândega.
Lanterna de Led - $0,78

Uma dica pra isso não acontecer é comprar uma coisa de cada vez, porque pacotes menores chamam menos a atenção de quem vai abrir (meu namorado comprou dois memory cards, um de cada vez, e chegaram bonitinho, funcionando e sem taxas), e já que o frete é grátis, isso não vai fazer muita diferença.
Pra mim, que sou louca pra comprar coisas diferentes pra minha casa, é uma excelente opção.

Cogumelos do Mário - $3,50

Pra quem gosta de cubo mágico ou outros tipos de puzzles também tem uma variedade impressionante. E pros mais bobos, tem tudo quanto é tipo de coisa que dá choque nos outros, desde os tradicionais chiclete e caneta até PSP e MP3 player de mentirinha. Muitos itens têm não só avaliações comentadas de outros compradores como também fotos e vídeos postadas por eles pra você ter idéia de tamanho, variação de cor, etc.
O produto vem de avião (mas é possível que a embalagem não esteja aquela perfeição) e leva cerca de 3 semanas pra chegar.

Jacaré que morde o dedo - $7,90

É isso aí, peça emprestado o cartão internacional do papai e boas compras!

domingo, 5 de julho de 2009

Enfim, as férias!

Infelizmente já entramos no mês de julho e alguns posts começados morreram, porque eu ia falar de peças de teatro que fui ver no final de maio, mas que evidentemente, com esse pequeno gap, já saíram de cartaz. É que a faculdade, mais a iniciação científica, mais o curso de japonês e mais o kung fu não estavam sendo suficientes, então resolvi que vou casar daqui a dois meses, aí estou numa pequena correria.
Por isso, dou graças por terem entrado as férias, época em que eu não só tenho mais tempo para escrever como também tenho mais assunto - porque vou mais ao teatro e ao cinema, leio mais livros, revistas, jornal... e durmo mais (muito mais) também, deve ter até um material onírico mais consistente =)
Pretendo surpreender as pessoas que, de forma muito justa, só abrem o meu blog a cada, sei lá, 2 meses pra ler um post novo, e quando elas entrarem vão ter bem uma dúzia de textos pra ler. Espero conseguir escrever posts menores também, pra que não seja necessária tanta paciência para acompanhar meu blog, nem tanto tempo para atualizá-lo.
Só pra não deixar esse post sem conteúdo, convido os outros de férias como eu a romperem um pouco a catarse de ver tv a noite toda (seja pra ver a 15ª temporada de uma série qualquer, seja pra saber se o Bahuan vai conseguir estragar o casamento da Maya) e ir ao teatro. E não vale essa desculpa de que teatro é caro não, viu, porque tem muita peça grátis ou que cobra preços simbólicos. Fora que, se a sua intenção for ver uma peça mais carinha mesmo, não esqueça que provavelmente os R$40 que você vai gastar iriam para o vaso sanitário no dia seguinte caso tivesse sido investido num rodízio japonês, por exemplo.
Vou dar algumas sugestões, que eu também pretendo ver nos próximos dias:
  • Agreste: está em cartaz há um bom tempo, e há um bom tempo que eu quero ver. Ganhou vários prêmios importantes em 2004 (Shell de melhor autor e APCA de melhor espetáculo e autor). No Espaço Parlapatões, um dos mais famosos da cidade; acho que não precisa falar muito mais. Está R$30 a inteira, se você paga meia é simplesmente uma heresia achar caro.
  • Piadas em Quadrinhos: uma peça de 70min composta por cenas do cotidiano a partir de uma visão do mundo de um grupo de teatro de afásicos. No Tetro Imprensa, segunda e terça-feira (dias 6 e 7) por R$10.
  • Paralela Noir: são 3 peças (Carícias; Baal; A Casa de Bernarda Alba) às quintas, sextas e sábados, respectivamente. Todas são inteiramente de grátis, é só retirar os ingreços com 1h de antecedência no Club Noir.
Então é isso, levantem a bunda bo sofá, peguem o bilhete único (é tudo perto do metrô) e a carteirinha de estudante (e, se você não é mais estudante, deveria estar trabalhando pra pagar a inteira, seu inútil).

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Hoje eu chorei vendo o Jornal Nacional

É terrível olhar para os lados e perceber que o mundo não faz sentido nenhum, que você pode ler o filósofo que for e ainda assim não conseguirá entender muitas coisas. Não sei se há coisas que eu não quero entender ou se elas simplesmente não têm explicação.
Hoje passou no jornal, uns assaltantes entraram num condomínio, o alarme da casa disparou e eles, antes de sair, atiraram contra a babá e as gêmeas de 8 anos que estavam com ela. Uma das meninas está no hospital, com um tiro na cabeça.
Logo em seguida, aparece uma notícia de outra mulher, que morreu de parada cardiorrespiratória depois de ouvir o marido e o filho serem mortos por ladrões dentro de casa.
É difícil se conscientizar de que só dá pra ser feliz se não olharos para os lados, ou se simplesmente não nos importarmos com os outros.
Minha reação facilmente cai para o lado da revolta, do protesto; mas algumas coisas fazem com que eu me sinta tão cansada, incapaz de sentir algo muto além de tristeza.

quinta-feira, 30 de abril de 2009

Depois do Jantar

Carlos Drummond de Andrade


Também, que idéia a sua: andar a pé, margeando a Lagoa Rodrigo de Freitas, depois do jantar.

O vulto caminhava em sua direção, chegou bem perto, estacou à sua frente. Decerto ia pedir-lhe um auxílio.

— Não tenho trocado. Mas tenho cigarros. Quer um?

— Não fumo, respondeu o outro.

Então ele queria é saber as horas. Levantou o antebraço esquerdo, consultou o relógio:

— 9 e 17... 9 e 20, talvez. Andaram mexendo nele lá em casa.

— Não estou querendo saber quantas horas são. Prefiro o relógio.

— Como?

— Já disse. Vai passando o relógio.

— Mas ...

— Quer que eu mesmo tire? Pode machucar.

— Não. Eu tiro sozinho. Quer dizer... Estou meio sem jeito. Essa fivelinha enguiça quando menos se espera. Por favor, me ajude.

O outro ajudou, a pulseira não era mesmo fácil de desatar. Afinal, o relógio mudou de dono.

— Agora posso continuar?

— Continuar o quê?

— O passeio. Eu estava passeando, não viu?

— Vi, sim. Espera um pouco.

— Esperar o quê?

— Passa a carteira.

— Mas...

— Quer que eu também ajude a tirar? Você não faz nada sozinho, nessa idade?

— Não é isso. Eu pensava que o relógio fosse bastante. Não é um relógio qualquer, veja bem. Coisa fina. Ainda não acabei de pagar...

— E eu com isso? Então vou deixar o serviço pela metade?

— Bom, eu tiro a carteira. Mas vamos fazer um trato.

— Diga.

— Tou com dois mil cruzeiros. Lhe dou mil e fico com mil.

— Engraçadinho, hem? Desde quando o assaltante reparte com o assaltado o produto do assalto?

— Mas você não se identificou como assaltante. Como é que eu podia saber?

— É que eu não gosto de assustar. Sou contra isso de encostar o metal na testa do cara. Sou civilizado, manja?

— Por isso mesmo que é civilizado, você podia rachar comigo o dinheiro. Ele me faz falta, palavra de honra.

— Pera aí. Se você acha que é preciso mostrar revólver, eu mostro.

— Não precisa, não precisa.

— Essa de rachar o legume... Pensa um pouco, amizade. Você está querendo me assaltar, e diz isso com a maior cara-de-pau.

— Eu, assaltar?! Se o dinheiro é meu, então estou assaltando a mim mesmo.

— Calma. Não baralha mais as coisas. Sou eu o assaltante, não sou?

— Claro.

— Você, o assaltado. Certo?

— Confere.

— Então deixa de poesia e passa pra cá os dois mil. Se é que são só dois mil.

— Acha que eu minto? Olha aqui as quatro notas de quinhentos. Veja se tem mais dinheiro na carteira. Se achar uma nota de 10, de cinco cruzeiros, de um, tudo é seu. Quando eu confundi você com um, mendigo (desculpe, não reparei bem) e disse que não tinha trocado, é porque não tinha trocado mesmo.

— Tá bom, não se discute.

— Vamos, procure nos... nos escaninhos.

— Sei lá o que é isso. Também não gosto de mexer nos guardados dos outros. Você me passa a carteira, ela fica sendo minha, aí eu mexo nela à vontade.

— Deixe ao menos tirar os documentos?

— Deixo. Pode até ficar com a carteira. Eu não coleciono. Mas rachar com você, isso de jeito nenhum. É contra as regras.

— Nem uma de quinhentos? Uma só.

— Nada. O mais que eu posso fazer é dar dinheiro pro ônibus. Mas nem isso você precisa. Pela pinta se vê que mora perto.

— Nem eu ia aceitar dinheiro de você.

— Orgulhoso, hem? Fique sabendo que tenho ajudado muita gente neste mundo. Bom, tudo legal. Até outra vez. Mas antes, uma lembrancinha.

Sacou da arma e deu-lhe um tiro no pé.






Não sei porque fiquei com uma vontade súbita de Drummond, e resolvi colocar esse texto aqui. Ele é um de nossos poetas mais atemporais, mas certamente não teria orgulho da atualidade de "Depois do Jantar", publicado em 1977.
Mesmo que ele já não possa constatar por si a violência gratuita que continua reinando por aí, a estátua em sua homenagem na praia de Copacabana já teve os óculos roubados pelo menos meia dúzia de vezes...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Who Watches the Watchmen?

Quem vigia os vigilantes?


Faz muito tempo que não posto aqui, mas nem tanto que não escrevo, já comecei dois posts, mas sempre acho que tem um assunto mais imediato, que agora o assunto anterior ficou passado, porque ando meio (muito) sem tempo. É que não é só ter o assunto e escrever; arrumar o post bonitinho, achar links e figuras, procurar referências etc são coisas que me fazem gastar um tempo considerável. Eu queria ter terminado meu post sobre Coraline, que escrevi dia 15/02, bem antes desse; mas aí achei que ia sair do clima e esse aqui também ia ficar atrasado.

Quando comecei esse blog, uma das minhas motivações foi que eu queria escrever sobre o filme do Batman. Saí tão empolgada do cinema, pensando no que eu escreveria se fosse uma crítica de revista que acabei escrevendo mesmo. Pra mim, aquele tinha sido o melhor filme de super-heroi já feito, e depois dele só vieram um punhado de decepções no cinema, a começar por Iron Man. Eu estava completamente desanimada com o cinema esse ano, pensando nos montes de porcarias que iam estrear. Coraline eu sabia que ia ser bom; Dragon Ball, eu sei que vai ser ruim. Mas e Watchmen?

Não consegui chegar a uma conclusão, fiquei com um frio na barriga e não me animei muito em ver o filme. O Allan Moore disse que ia ser um lixo, que ele tinha certeza que nenhum diretor seria capaz de transmitir tudo o que Watchmen significava, que a história era feita pros quadrinhos e intransponível a outra forma de mídia.



Afinal, Watchmen é uma espécie de bíblia dos quadrinhos, e mesmo que não seja uma unanimidade monoteísta, já que o universo das HQs tem outros deuses além de Alan Moore, como Frank Miller e Neil Gaiman, é inegável que ela tem um papel de extremo destaque entre suas obras-primas. E é muito difícil agradar os fãs e o resto do público.

No fim das contas, não fiquei muito empolgada com os traileres, que mostravam aquela entrada de Lauren com os cabelos esvoaçantes e cara de mulher fatal. No fim das contas, só fui ver porque um amigo me convidou, mas confesso que achava que ia gastar meu dinheiro à toa.

O resultado foram quase 2h30 de filme que provaram que Zack Snyder é mesmo um gênio e que o Alan Moore é mesmo um chato rabugento. Verdade seja dita, o roteirista não teve trabalho nenhum; simplesmente pegaram os quadrinhos, cortaram um pedacinho aqui e outro ali e filmaram todo o resto, na ordem e com as falas exatas. As adaptações foram mínimas e bem-sucedidas. Essa fidelidade costuma agradar os fãs mais xiitas, aqueles chatos que nem o Alan Moore e que vão ver o filme só pra se irritarem e ver defeitos. Apesar de eu já ter ouvido e lido que o filme devia ter sido mais adaptado e aquela velha história de que quem não leu os quadrinhos não entendeu o filme direito, acho, como sempre, que é balela. É a velha mania de quem leu o original e vai ver o filme mais como uma confirmação ou um extra e considera que por isso a sua capacidade de compreensão é superior à dos outros. Na verdade, é aquele tipo de pessoa que sempre acha que a sua capacidade de compreensão é maior que a dos outros mortais.

Claro que sempre tem aqueles detalhes que só se pega na segunda ou terceira vez que se vê um filme, então quem já está familiarizado com a trama sempre pega alguma sutileza a mais, ou consegue ter uma idéia mais ampla porque tem conceitos que o próprio filme não dá. Fora que é bem mais divertido ir ver um filme de um livro ou quadrinho de que se é fã, com toda aquela expectativa e paixão, pra amar ou odiar o filme no final. Provavelmente, Watchmen seria um filme difícil de entender (e provavelmente infilmável) na década de 80, quando os quadrinhos foram lançados, mas hoje em dia, há muito que o cinema tem uma linguagem eclética, roubando elementos inclusive das próprias HQs, e todo mundo já está acostumado com histórias não-lineares, cheias de flashbacks e personagens. Atualmente, imagino que qualquer criança com mais de 10 anos (ou adulto com essa idade mental) é perfeitamente capaz de entender o filme.


Dá uma olhada no naipe desses caras...


Mas vamos à história. Watchmen foi lançado em 12 volumes ao longo do ano de 1985 nos EUA, e se passa nesse mesmo ano. Trata-se de uma espécie de realidade alternativa em que herois mascarados saíam pelas ruas na época da guerra fria, tanto para tentar conter a violência que aflorava na população pela angústia de uma guerra nuclear iminente quanto para extravasar suas próprias violência e angústia nesse contexto. Os tais “herois” foram compulsoriamente aposentados após uma revolta da população, pelo menos a maioria deles. Alguns passaram a ser procurados pela justiça por não abandonarem a máscara e outros, a trabalhar a favor do governo dos EUA. O que há de genial na história é exatamente a ideia de quem é heroi e quem é vilão em época de guerra, por isso há bastante foco na história de cada personagem, suas motivações e ideais um tanto controversos e seus caráteres e condutas no mínimo um tanto desviados.

Esse tipo de personagem mais humano, com mais defeitos do que qualidades, o que não é muito comum entre os herois, são os que despertam mais amor e ódio pela capacidade de identificação e projeção na vida real, e esse é um dos principais componentes de Watchmen.

Então vamos falar alguma coisinha desses personagens:


Comediante: o mais filhadaputa do grupo, mas também o menos hipócrita. Enxerga que o mundo está uma droga, mas encara isso como uma grande piada, e ele é quem vai rir por último, não importando quantos vietnamitas matar, afinal a guerra é um grande parque de diversões. É superforte e super-sem-caráter, por isso trabalhava para o governo, se divertindo tanto quanto na época de mascarado, até ser assassinado em seu apartamento (calma, não é spoiler, é a primeira cena do filme). É a partir daí que se desenvolve a trama, e a partir da lembrança que os outros têm de sua personalidade “forte” - eufemismo – que os primeiros flashbacks aparecem e conhecemos melhor os personagens.


Dr. Manhattan: o que tem de fato história de heroi e superpoderes de heroi: era um cara mais nerd que o Peter Parker e sofreu um acidente com um equipamento de seu laboratório que o desintegrou por alguns dias, mas ele logo depois apareceu mais fodástico que o superman e com mais poderes do que todos os X-Men juntos, com o pequeno inconveniente de ser azul, brilhante e careca. Mas com aquele corpo avantajado e a mania de andar pelado o tempo todo, virou o namorado da boazuda do grupo. Também é a marionete do governo americano, que o mantém como garantia para que os russos não comecem um ataque nuclear, já que o cara que consegue controlar a matéria e a energia e tem uma compreensão quântica do tempo e do espaço é americano.


Rorshach: o mais próximo de um heroi nos moldes convencionais, e também o mais próximo de um vilão, é o único dos antigos mascarados que continua na ativa. É basicamente um sociopata que encontrou seu lugar no mundo exercendo sua justiça no mundo podre permeado de políticos e prostitutas que não merecem perdão. É ele quem conta a história, obcecado por desvendar o assassinato do Comediante, que acredita ser uma conspiração contra os ex-mascarados. Seus atributos heroicos são uma máscara estilosa, com um tecido que se modifica constantemente (porque foi projetado pelo dr. Manhattan), uma capacidade investigativa acima do padrão (um pouco por ser paranoico e um pouco por ser melhor que o capitão Nascimento em fazer as pessoas falarem) e luta bem.


Night Owl: é o Batman daquele seriado antigão, com uma roupa tosca e uma barriguinha saliente. Tem um certo senso de justiça, e como um bom nerd que gosta de tecnologia, um veículo voador estranho que chama de “Archie” e outros apetrechos high-tech. É meio looser e sem personalidade, tanto que é o segundo Coruja, copiando até a identidade secreta de um ex-heroi que ficou velho e abriu uma oficina mecânica.


Silk Spectre: a gostosona do grupo, filha de outra heroína aposentada que não curtia muito a vida de combate ao crime. Cheia de complexos e protagonista da parte “novela mexicana” da história, mora sob proteção do governo americano por ser mulher do Dr. Manhattan. Suas habilidades são lutar bem e conseguir fazer coisas absurdas com aquele cabelão enorme sem estragar a chapinha.


Ozymandias: depois de se aposentar como super heroi revelou sua identidade e ficou mais rico vendendo bonequinhos dele mesmo, afinal é considerado o homem mais inteligente do mundo. É mais gay que o Robin e obcecado com histórias da antiguidade. Entre suas habilidades heroicas, tem uma velocidade acima do normal.


Então, pelo que eu disse até agora dá pra imaginar por que o filme saiu por aqui com classificação 18 anos (que eu achei um pouquinho exagerada, pra variar). Além das cenas sangrentas ou violentas, a história em si é pesada. Mas o filme como um todo não, porque o clima varia consideravelmente, com algumas cenas cômicas que beiram o ridículo permeando outras capazes de levar a algum mal-estar, e o filme vai ficando menos deprê quanto mais perto vai chegando do final. Enfim, o filme é muito bom e se você não for um velho chato (ou tiver espírito de velho chato) provavelmente vai gostar. Também não dá pra ir esperando um filme no molde dos X-Men ou do Batman, porque não é nada disso.

Resumindo: vá ao cinema que você não vai gastar seu dinheiro à toa. E, se você não foi convencido por essa que vos fala, leia os quadrinhos totalmente de grátis (que podem ser baixados em 3 partes: 1, 2 e 3 – apesar de a qualidade não estar maravilhosa) pra ver se eu não tenho razão. Concordo que não é o gibi mais fácil de ler do mundo, então permita-se ler os primeiros 2 ou 3, a partir de onde a história começa a engrenar, e aí vá ao cinema ver o filme.

domingo, 25 de janeiro de 2009

Woody Allen

Há um tempinho eu fui ao cinema ver Vicky Cristina Barcelona. É um filme ótimo, com atores ótimos, recomendo que assistam. Conta a história de como uma viagem a Barcelona (e o encontro com um homem por lá) mudou a vida de Vicky e de Cristina, e suas visões a respeito do amor e dos relacionamentos - ou não. O filme é leve e divertido, e claro que grande parte disso se deve ao papel de Penélope Cruz, que recebeu elogios muito merecidos de todas as críticas que vi a respeito do filme. Enfim, assistam que vale a pena.
Mas, como eu disse, vi o filme deve fazer um mês, mais ou menos na época da estréia, mas não escrevi nada aqui. E não foi pelo meu gosto estranho de fazer resenhas de filmes velhos, ou que todo mundo já viu, como eu fiz com Sweeney Todd; é que esse filme me ajudou a desfazer um velho preconceito que eu tinha contra o Woody Allen, e eu pretendia fazer uma mega resenha falando de vários filmes dele.
Claro que, como todas as minhas idéias megalomaníacas de posts absurdos, não deu muito certo. Mas voltemos ao que deu certo. O primeiro filme do Woody Allen que eu vi foi O Escorpião de Jade, um filme bobinho, mas engraçadinho. Mas a maioria das pessoas que eu conhecia diziam que ele era um chato, todos os seus filmes eram chatos ou o odiavam por seus escândalos amorosos (convenhamos que largar a esposa para se casar com a filha - mesmo adotiva - dela não é algo muito aceitável socialmente, pra dizer o mínimo).

Match Point

Mas aí veio o Match Point, um filme brilhante, na minha opinião. Inteligente, forte, criativo, (des)humano, cheio de reviravoltas.
Depois desse, nem Melinda e Melinda nem Scoop chamaram minha atenção, e acabei nem assistindo.

Vicky Cristina Barcelona

E Vicky Cristina Barcelona não me levou ao cinema por muito mais do que uma crítica favorável e uma simples vontade de ir ao cinema (era ou esse, ou 'Queime Depois de Ler', que estava passando em tudo que era cinema).
O filme me surpreendeu, e eu resolvi que gostava, sim, do Woody Allen, e que ia alugar uma porção de filmes dele pra escrever um post sobre seu trabalho. Fui querendo pegar "Dirigindo no Escuro", mas estava locado e acabei levando "Noivo Neurótico, Noiva Nervosa". Não que o título tivesse me chamado a atenção, a não ser por ser um desses claros exemplos de como os tradutores brasileiros vão muito além de seu trabalho de traduzir ou, no máximo, adaptar, e põem pra trabalhar toda sua veia artística e criativa - afinal, quem iria alugar um filme chamado "Annie Hall" se podemos transgredir totalmente a intenção do autor e dar o título mais idiota que nos vem à mente?
Acontece que quando eu terminei de ver o filme, percebi que seria uma bobagem alugar uma porrada de filmes do Woody Allen e assistir de uma vez, como se fosse Star Wars. Enquanto a maioria dos filmes se limita a seus 90 a 120 minutos e algum comentário posterior, esse era um filme pra ser lembrado, percebido, apreciado, desses que continuam na sua cabeça por horas ou até dias depois que você terminou de ver. Match Point, por exemplo, teve esse efeito em mim; e Annie Hall também.
Neste filme de 1977 conhecemos o atribulado relacionamento de Alvy Singer (Allen), um comediante pessimista que faz análise há 15 anos, e Annie Hall (Diane Keaton), uma cantora jovem e quase tão complicada quanto ele. No começo do filme, após um brilhante monólogo com o espectador, Singer nos conta que eles terminaram, e o restante do filme passa por seus desencontros e paixões, passeios e cursos, discussões e lagostas. Um roteiro digno de uma comédia romântica dessas com o Ben Affleck ou a Meg Ryan, não fossem os diálogos fantásticos e certas cenas deliciosas, como a do jovem Alvy na escola, a da fila do cinema ou a famosa cena em que ele pede a Annie para não fumar maconha antes de transar.
Annie Hall

O resultado é um filme bem acima da média, que rendeu uma porção de oscars - inclusive o de melhor filme - e que proporciona ao espectador algumas boas risadas, outras reflexões pessimistas e uma visão leve e bem-humorada, mas que ainda assim não deixa de ser amarga da vida e dos relacionamentos.
O desfecho salva o filme da idéia de comédia romântica de que o "viveram felizes para sempre" está ligado ao fato de o mocinho e a mocinha ficarem juntos no final - o que é condizente com um personagem que se apresenta com esse texto:

sábado, 3 de janeiro de 2009

Crepúsculo - o filme


Já dava pra ver que tipo de filme era Crepúsculo pelo tipo de pessoas que estavam na sala para assisti-lo. Não fui na época em que lançou, então não pude comprovar que deviam ser essencialmente as mesmas pessoas que foram ver High School Musical 3 por uma questão de amostragem - a sala estava meio vazia, às vésperas do ano novo, em uma das raras sessões legendadas. Mas ainda assim dava pra sentir que a média de idade devia ser uns 15 anos, e que os cromossomos Y eram raros.
Fiquei com vontade de ver o filme no dia seguinte que li o livro, mais por curiosidade do que por qualquer outra razão. E também porque eu queria escrever um post só, falando dos dois. Mas não rolou, e nem rolou escrever esse segundo post no feriado.
Na verdade não há muito o que falar sobre o filme, pois como eu disse post passado, a história do livro é bem bobinha, e o que valorizei nele é a narrativa e como ela é capaz de te puxar para o mundo do livro totalmente. Claro que, despido dessa capacidade como é um filme, impessoal, distante e, invariavelmente, em terceira pessoa, acaba sobrando só a história bobinha.
Mas concordo com uma das resenhas do IMDB, que dizia que conseguiram fazer algo razoável, provavelmente o melhor possível, considerando o material que tinham em mãos. Realmente, foram capazes de, gastando pouco - já que todos os atores são estreantes ou muito estreantes - , faturar alto, pois a bilheteria de Twilight nos EUA superou Indiana Jones 4 e 007 - Quantum of Solace. Claro que grande parte disso se deve ao sucesso absoluto do livro por lá, o que há alguns anos significa segurança de igual sucesso nas bilheterias (tanto que já estão filmando a sequência, Lua Nova), e outra parte se deve ao entusiástico público adolescente do livro, porque afinal não imagino um monte de adultos lotando umas 10 salas em uma pré-estreia dessas à meia-noite de um filme como O Caçador de Pipas. É um público previsível, e, consequentemente, certeiro. (perceberam o consequentemente sem trema e o estreia sem acento?? é, estou tentando me adaptar às novas regras, fazer o que! ^__^)



Voltando ao filme, o enredo é exatamente aquele que eu dei do livro. É um filme de sessão da tarde, bem feitinho, com efeitos bacanas. Não é um filme bom, mas também não é jogar dinheiro fora. Uma vantagem bacana é que o livro tem um pouco mais de ação que o livro, porque confesso que apesar do que eu disse falando bem do livro, acho um pecado um livro sobre vampiros que nos prive da pancadaria. Quando cheguei nas últimas 100 páginas, achei que estava começando ali, embora tardiamente, a ação. Mas o clima só ganhou uma dose de tensão e suspense, e quando chegou a hora da luta do final, a mocinha não viu, e como é um livro em primeira pessoa - e aí está uma grande desvantagem- , nós também não.
No filme falta também uma dose de violência um pouco mais intensa, mas quando seu público-alvo não permite que a classificação etária suba acima dos 12 anos, não imagino muito o que fazer. O mesmo acontece com a sensualidade, que é relativamente bem fraquinha no livro, pra que pais horrorizados não proíbam suas filhinhas inocentes de acompanhar a série.
Apesar de isso não ser muito condizente com a temática de vampiros em si, e com a relação muito clara entre beber sangue e fazer sexo (o desejo incontrolável, a troca de fluidos corporais, a dominação...), que também aparece de certa forma no livro. Afinal, o desejo de Edward quando vê Bella é, de fato, comê-la - e fica claro que em ambos os sentidos, e justamente pela proximidade entre esses dois instintos que ele parece evitar um contato sensual exagerado. Isso é coerente com o mundo adolescente, e apesar do que o cinema muitas vezes nos mostra, as pessoas nem sempre saem por aí transando enlouquecidamente.
Mas uma outra vantagem boa do filme, vocês devem ter reparado já na primeira foto - é um filme que faz muito bem aos olhos pelo elenco eminentemente bonito. Admito que Robert Pattinson (o Cedrico Diggory, de Harry Potter e o Cálice de Fogo), apesar de não ser tão lindo e perfeito quanto o Edward da minha cabeça, chegou bem perto... assim como seus irmãos, principalmente Jasper e Alice, e o pai, dr. Cullen, que também são muito lindos.
Por outro lado, a mocinha (Kirsten Stewart, de O Quarto do Pânico) parece realmente sem graça perto deles, e é bem esquisito vê-la, como eu já disse, em terceira pessoa. Dá quase ciúmes ver alguém usurpando o seu lugar na tela, do lado do mocinho...
Como os atores não são famosos, os personagens são:
Emmet, Rosalie, Esme, Edward, Carlisle, Alice e Jasper


E sempre há a grande desvantagem em relação ao livro - o filme é muito curto. Por mais que seja fiel, e pegue as partes mais importantes e etc, você passa muito pouco tempo e muito poucas situações ao lado dos personagens; por mais que se leia rápido (eu levei cerca de 8h pra ler Crepúsculo) o tempo de filme é comparativamente muito menor, e quando trata-se de um livro sobre apaixonar-se, isso acaba fazendo com que o sentimento pareça mais falso ou forçado, e o limite de tempo não permite as dúvidas, negativas ou hesitações tão numerosas no livro. Talvez quem não tenha lido não repare nisso, mas provavelmente não achará nenhum atrativo em Edward que seja muito maior que a sua beleza - o que não deve ser o caso em um livro sem figuras.
Enfim, a conclusão é essa; se você está esperando um filme de vampiros, desfaça-se dos pressupostos que um filme desse carrega, e pode levar a irmãzinha, o sobrinho, a vó ou quem quer que seja pra ver sem medo, porque os níveis de sexo e violência ficam abaixo de qulquer desenho animado da Disney. Se você não gosta de gastar dinheiro no cinema pra ver filme tipo sessão da tarde, espere sair o dvd e baixe o torrent. Se você é uma menina romântica, vá ver - na verdade, se você for uma menina que gosta de ver meninos bonitos, vá ver.