Faz muito tempo que não posto aqui, mas nem tanto que não escrevo, já comecei dois posts, mas sempre acho que tem um assunto mais imediato, que agora o assunto anterior ficou passado, porque ando meio (muito) sem tempo. É que não é só ter o assunto e escrever; arrumar o post bonitinho, achar links e figuras, procurar referências etc são coisas que me fazem gastar um tempo considerável. Eu queria ter terminado meu post sobre Coraline, que escrevi dia 15/02, bem antes desse; mas aí achei que ia sair do clima e esse aqui também ia ficar atrasado.
Quando comecei esse blog, uma das minhas motivações foi que eu queria escrever sobre o filme do Batman. Saí tão empolgada do cinema, pensando no que eu escreveria se fosse uma crítica de revista que acabei escrevendo mesmo. Pra mim, aquele tinha sido o melhor filme de super-heroi já feito, e depois dele só vieram um punhado de decepções no cinema, a começar por Iron Man. Eu estava completamente desanimada com o cinema esse ano, pensando nos montes de porcarias que iam estrear. Coraline eu sabia que ia ser bom; Dragon Ball, eu sei que vai ser ruim. Mas e Watchmen?
Não consegui chegar a uma conclusão, fiquei com um frio na barriga e não me animei muito em ver o filme. O Allan Moore disse que ia ser um lixo, que ele tinha certeza que nenhum diretor seria capaz de transmitir tudo o que Watchmen significava, que a história era feita pros quadrinhos e intransponível a outra forma de mídia.
Afinal, Watchmen é uma espécie de bíblia dos quadrinhos, e mesmo que não seja uma unanimidade monoteísta, já que o universo das HQs tem outros deuses além de Alan Moore, como Frank Miller e Neil Gaiman, é inegável que ela tem um papel de extremo destaque entre suas obras-primas. E é muito difícil agradar os fãs e o resto do público.
No fim das contas, não fiquei muito empolgada com os traileres, que mostravam aquela entrada de Lauren com os cabelos esvoaçantes e cara de mulher fatal. No fim das contas, só fui ver porque um amigo me convidou, mas confesso que achava que ia gastar meu dinheiro à toa.
O resultado foram quase 2h30 de filme que provaram que Zack Snyder é mesmo um gênio e que o Alan Moore é mesmo um chato rabugento. Verdade seja dita, o roteirista não teve trabalho nenhum; simplesmente pegaram os quadrinhos, cortaram um pedacinho aqui e outro ali e filmaram todo o resto, na ordem e com as falas exatas. As adaptações foram mínimas e bem-sucedidas. Essa fidelidade costuma agradar os fãs mais xiitas, aqueles chatos que nem o Alan Moore e que vão ver o filme só pra se irritarem e ver defeitos. Apesar de eu já ter ouvido e lido que o filme devia ter sido mais adaptado e aquela velha história de que quem não leu os quadrinhos não entendeu o filme direito, acho, como sempre, que é balela. É a velha mania de quem leu o original e vai ver o filme mais como uma confirmação ou um extra e considera que por isso a sua capacidade de compreensão é superior à dos outros. Na verdade, é aquele tipo de pessoa que sempre acha que a sua capacidade de compreensão é maior que a dos outros mortais.
Claro que sempre tem aqueles detalhes que só se pega na segunda ou terceira vez que se vê um filme, então quem já está familiarizado com a trama sempre pega alguma sutileza a mais, ou consegue ter uma idéia mais ampla porque tem conceitos que o próprio filme não dá. Fora que é bem mais divertido ir ver um filme de um livro ou quadrinho de que se é fã, com toda aquela expectativa e paixão, pra amar ou odiar o filme no final. Provavelmente, Watchmen seria um filme difícil de entender (e provavelmente infilmável) na década de 80, quando os quadrinhos foram lançados, mas hoje em dia, há muito que o cinema tem uma linguagem eclética, roubando elementos inclusive das próprias HQs, e todo mundo já está acostumado com histórias não-lineares, cheias de flashbacks e personagens. Atualmente, imagino que qualquer criança com mais de 10 anos (ou adulto com essa idade mental) é perfeitamente capaz de entender o filme.
Mas vamos à história. Watchmen foi lançado em 12 volumes ao longo do ano de 1985 nos EUA, e se passa nesse mesmo ano. Trata-se de uma espécie de realidade alternativa em que herois mascarados saíam pelas ruas na época da guerra fria, tanto para tentar conter a violência que aflorava na população pela angústia de uma guerra nuclear iminente quanto para extravasar suas próprias violência e angústia nesse contexto. Os tais “herois” foram compulsoriamente aposentados após uma revolta da população, pelo menos a maioria deles. Alguns passaram a ser procurados pela justiça por não abandonarem a máscara e outros, a trabalhar a favor do governo dos EUA. O que há de genial na história é exatamente a ideia de quem é heroi e quem é vilão em época de guerra, por isso há bastante foco na história de cada personagem, suas motivações e ideais um tanto controversos e seus caráteres e condutas no mínimo um tanto desviados.
Esse tipo de personagem mais humano, com mais defeitos do que qualidades, o que não é muito comum entre os herois, são os que despertam mais amor e ódio pela capacidade de identificação e projeção na vida real, e esse é um dos principais componentes de Watchmen.
Então vamos falar alguma coisinha desses personagens:
Comediante: o mais filhadaputa do grupo, mas também o menos hipócrita. Enxerga que o mundo está uma droga, mas encara isso como uma grande piada, e ele é quem vai rir por último, não importando quantos vietnamitas matar, afinal a guerra é um grande parque de diversões. É superforte e super-sem-caráter, por isso trabalhava para o governo, se divertindo tanto quanto na época de mascarado, até ser assassinado em seu apartamento (calma, não é spoiler, é a primeira cena do filme). É a partir daí que se desenvolve a trama, e a partir da lembrança que os outros têm de sua personalidade “forte” - eufemismo – que os primeiros flashbacks aparecem e conhecemos melhor os personagens.
Dr. Manhattan: o que tem de fato história de heroi e superpoderes de heroi: era um cara mais nerd que o Peter Parker e sofreu um acidente com um equipamento de seu laboratório que o desintegrou por alguns dias, mas ele logo depois apareceu mais fodástico que o superman e com mais poderes do que todos os X-Men juntos, com o pequeno inconveniente de ser azul, brilhante e careca. Mas com aquele corpo avantajado e a mania de andar pelado o tempo todo, virou o namorado da boazuda do grupo. Também é a marionete do governo americano, que o mantém como garantia para que os russos não comecem um ataque nuclear, já que o cara que consegue controlar a matéria e a energia e tem uma compreensão quântica do tempo e do espaço é americano.
Rorshach: o mais próximo de um heroi nos moldes convencionais, e também o mais próximo de um vilão, é o único dos antigos mascarados que continua na ativa. É basicamente um sociopata que encontrou seu lugar no mundo exercendo sua justiça no mundo podre permeado de políticos e prostitutas que não merecem perdão. É ele quem conta a história, obcecado por desvendar o assassinato do Comediante, que acredita ser uma conspiração contra os ex-mascarados. Seus atributos heroicos são uma máscara estilosa, com um tecido que se modifica constantemente (porque foi projetado pelo dr. Manhattan), uma capacidade investigativa acima do padrão (um pouco por ser paranoico e um pouco por ser melhor que o capitão Nascimento em fazer as pessoas falarem) e luta bem.
Night Owl: é o Batman daquele seriado antigão, com uma roupa tosca e uma barriguinha saliente. Tem um certo senso de justiça, e como um bom nerd que gosta de tecnologia, um veículo voador estranho que chama de “Archie” e outros apetrechos high-tech. É meio looser e sem personalidade, tanto que é o segundo Coruja, copiando até a identidade secreta de um ex-heroi que ficou velho e abriu uma oficina mecânica.
Silk Spectre: a gostosona do grupo, filha de outra heroína aposentada que não curtia muito a vida de combate ao crime. Cheia de complexos e protagonista da parte “novela mexicana” da história, mora sob proteção do governo americano por ser mulher do Dr. Manhattan. Suas habilidades são lutar bem e conseguir fazer coisas absurdas com aquele cabelão enorme sem estragar a chapinha.
Ozymandias: depois de se aposentar como super heroi revelou sua identidade e ficou mais rico vendendo bonequinhos dele mesmo, afinal é considerado o homem mais inteligente do mundo. É mais gay que o Robin e obcecado com histórias da antiguidade. Entre suas habilidades heroicas, tem uma velocidade acima do normal.
Então, pelo que eu disse até agora dá pra imaginar por que o filme saiu por aqui com classificação 18 anos (que eu achei um pouquinho exagerada, pra variar). Além das cenas sangrentas ou violentas, a história em si é pesada. Mas o filme como um todo não, porque o clima varia consideravelmente, com algumas cenas cômicas que beiram o ridículo permeando outras capazes de levar a algum mal-estar, e o filme vai ficando menos deprê quanto mais perto vai chegando do final. Enfim, o filme é muito bom e se você não for um velho chato (ou tiver espírito de velho chato) provavelmente vai gostar. Também não dá pra ir esperando um filme no molde dos X-Men ou do Batman, porque não é nada disso.
Resumindo: vá ao cinema que você não vai gastar seu dinheiro à toa. E, se você não foi convencido por essa que vos fala, leia os quadrinhos totalmente de grátis (que podem ser baixados em 3 partes: 1, 2 e 3 – apesar de a qualidade não estar maravilhosa) pra ver se eu não tenho razão. Concordo que não é o gibi mais fácil de ler do mundo, então permita-se ler os primeiros 2 ou