Estava lá, deitada nesse calorão, você já dormindo, com a luz apagada abracei os seus ombros e eles me pareceram não tão familiares, não sei, talvez mais frios porque eu estava muito quente. Sem poder te ver passei a mão pelo seu rosto, com a barba sempre por fazer e ouvi sua respiração, e me aliviei - ela estava com o som e o cheiro que costumam embalar o meu sono. Como sempre faço, mesmo sabendo que você não pode ouvir, ou talvez com uma esperança de que você ouça lá no fundo e sonhe comigo, sussurrei que te amo. Rolei de um lado pro outro inquieta, me cobrindo e descobrindo com o lençol, talvez fosse melhor ligar o ventilador, talvez levantar de uma vez e pegar um livro pra ler, mas não quero te acordar. E foi no momento de pré sono, quando as ondas cerebrais entram naquele frenesi de semi-consciência que nos fazem ter a recorrente impressão de estarmos caindo, foi naquele nomento que eu acordei assustada. Percebi um medo que eu nunca tinha tido, que de tão absurdo e irracional se torna um desses medos dignos de se ter medo, porque sem a racionalização não tem como expiá-los. Sempre pensei que o meu pior medo fosse te perder, que você deixasse de me amar, mas apesar da dor impensável, da total mudança de cotidiano e de perspectivas, do enorme vazio que me deixaria, ainda faz sentido, já que é um medo de uma coisa alheia a mim e que depende da sua vontade, dos seus sentimentos, e apesar de tudo acho que talvez pudesse entender que você quisesse algo a mais do que simplesmente eu algum dia, que esse dia seja nunca. Mas o medo indizível, que me paralisou ali na volta à consciência e que eu imdiatamente reconheci como vencedor em relação ao anterior foi o medo indizível de que seja eu quem deixe de te amar um dia. Assim, de repente, do mesmo jeito que quando abracei seus ombros por um momento me pareceu que não era você, que um dia eu te olhe e enxergue que nunca foi você. Eu sei que faz menos sentido ainda que o medo anterior, mas de outra forma é o único medo que faz sentido, porque é um medo ancestral, contrário ao medo natural do que eu não posso controlar, como os seus sentimentos - é o medo maior, da loucura, da perda do controle sobre si, da perda da identidade e da compreensão, da perda do mundo todo. É pesado esse insight do quanto a minha existência é relativa, de quão literalmente é você e te amar que me definem. Mas o peso é tão momentâneo quanto o próprio insight, porque o amor é tão leve e o medo é tão absurdamente aterrador quanto absurdamente bobo. O ritmo do meu coração normaliza, viro e te abraço de novo, seus ombros são os seus mesmo. Encosto os lábios no seu rosto pra aplacar a vontade de morder seu lábio pra ter crteza de que você existe. Tento sincronizar a minha respiração com a sua, porque esse ritmo de unidade sempre me faz dormir mais rápido, como se fosse o próprio Thanatos escondido nessa atitude simples que me puxasse para sonhos de que nunca me lembro.
domingo, 17 de outubro de 2010
sábado, 9 de janeiro de 2010
O Sonho Americano da Disney
Os saudosistas que vêem alguma perda da animação ocidental antiga em que a Disney preponderava em relação à atual, principalmente baseada na computação gráfica estão soltando rojões com A Princesa e o Sapo. Confesso que nunca deixei de apreciar os clássicos, e na casa dos meus pais está lá na sala o video-cassete ao lado da coleção de VHS da Disney que ainda não cansei de assistir (meu preferido é Aladdin, a fita já está até amassada no começo). Acredito que a Disney quis crescer junto com seus fãs, procurando inovar um pouco no estilo da animação 2D, e de como conduzir a história. Eu assisti a quase tudo que saiu (porque me nego a ver aquelas continuações sem sentido; o que vão narrar em Cinderella 3? o divórcio?). Há alguns fracassos terríveis, como Atlantis , e alguns acertos fantásticos, que no quesito animação tradicional mais "recente", está com A nova Onda do Imperador, que usa musicas animadas, desenho estilizado e humor nonsense (além da espetacular dublagem em português com Selton Mello e Marieta Severo) e Lilo e Stitch, em que a parte de cantoria se resume a Elvis, e o enredo e o estilo dos personagens (mais gordinhos, com outro padrão de beleza) são bem diferentes.
Sinceramente preferiria que a Disney continuasse fazendo coisas assim, experimentando, variando estilos e padrões. Mas realmente eu não arriscaria quando a última porcaria supostamente inovadora produzida pelo meu estúdio fosse Nem que a Vaca Tussa. E de fato, em relação à fórmula, não há inovações em A Princesa e o Sapo, por isso eu disse ser um prato cheio pros saudosistas. Com os traços tradicionais, as cançõezinhas se inserindo no meio da narrativa e os bichos como coadjuvantes carismáticos, a Disney aposta (e ganha, porque o filme até que está fazendo bastante sucesso) nas antigas fórmulas, com diretores experientes e um compositor vencedor do Oscar. Tanto o enredo quanto os personagens e seus rumos são previsíveis.
Além da tão falada diferença de a protagonista ser a primeira princesa negra, há alguns outros pontos importantes que fazem o filme ter um gostinho de novo. O primeiro é o ritmo de jazz marcando presença nas músicas e o segundo é a marcada presença do ideal do "Sonho Americano", de que com muito trabalho e esforço todos os seus sonhos podem ser realizados. Claro que esse é um tipo de ideia nada inocente quando estamos falando com ex-escravos que além de pobres sofrem preconceito e fingimos que é da falta de esforço e trabalho necessário que advém sua situação. Mas considerando a ideia aristocrática de desvalorizaçao do trabalho presente na maioria dos outros clássicos da Disney (afinal, com amor verdadeiro ou não, as princesas - e o Aladdin - só abandonam sua situação de pobre trabalhador sofredor pelo bom e velho caminho do golpe do baú), um ideal burguês pode até ser um avanço.
Resumindo, pra quem gostava dos clássicos da Disney, esse filme é uma boa pedida, com nostalgia sem ser o mesmo filme de novo. Agora se você não tem paciência pra cenas cantadas e pra previsibilidade ou lições de moral típicas desse gênero, melhor nem ver o DVD. Mas quem sabe não dá pra se animar com o ritmo e o humor de algumas cenas?
Sinceramente preferiria que a Disney continuasse fazendo coisas assim, experimentando, variando estilos e padrões. Mas realmente eu não arriscaria quando a última porcaria supostamente inovadora produzida pelo meu estúdio fosse Nem que a Vaca Tussa. E de fato, em relação à fórmula, não há inovações em A Princesa e o Sapo, por isso eu disse ser um prato cheio pros saudosistas. Com os traços tradicionais, as cançõezinhas se inserindo no meio da narrativa e os bichos como coadjuvantes carismáticos, a Disney aposta (e ganha, porque o filme até que está fazendo bastante sucesso) nas antigas fórmulas, com diretores experientes e um compositor vencedor do Oscar. Tanto o enredo quanto os personagens e seus rumos são previsíveis.
Além da tão falada diferença de a protagonista ser a primeira princesa negra, há alguns outros pontos importantes que fazem o filme ter um gostinho de novo. O primeiro é o ritmo de jazz marcando presença nas músicas e o segundo é a marcada presença do ideal do "Sonho Americano", de que com muito trabalho e esforço todos os seus sonhos podem ser realizados. Claro que esse é um tipo de ideia nada inocente quando estamos falando com ex-escravos que além de pobres sofrem preconceito e fingimos que é da falta de esforço e trabalho necessário que advém sua situação. Mas considerando a ideia aristocrática de desvalorizaçao do trabalho presente na maioria dos outros clássicos da Disney (afinal, com amor verdadeiro ou não, as princesas - e o Aladdin - só abandonam sua situação de pobre trabalhador sofredor pelo bom e velho caminho do golpe do baú), um ideal burguês pode até ser um avanço.
Resumindo, pra quem gostava dos clássicos da Disney, esse filme é uma boa pedida, com nostalgia sem ser o mesmo filme de novo. Agora se você não tem paciência pra cenas cantadas e pra previsibilidade ou lições de moral típicas desse gênero, melhor nem ver o DVD. Mas quem sabe não dá pra se animar com o ritmo e o humor de algumas cenas?
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