Então, há pouco mais de um mês, a Fabi me deu de presente de aniversário (muito pontual, por sinal, já que meu aniversário é em janeiro) um livro de bolso do Tolstói, com duas novelas, A Felicidade Conjugal (nome sugestivo que fez com que ela escolhesse o livro pra mim) seguida de O Diabo (bem, uma coisa deve ter a ver com a outra, não é mesmo). Pra variar, comecei a ler e acabei deixando o livro de lado um mês, e tudo indicava que ele teria o mesmo destino triste de seu antecessor, até um belo dia em que tomei um baita chá de cadeira e estava com o livrinho na bolsa – e acabei lendo de uma tacada só.
O livro é da L&PM Pocket, e tem uma tradução muito boa direto do russo, com um prefácio da própria tradutora que além de nos dar um resumo um tanto apaixonado da vida e obra do autor, dá uma explicação excelente quanto àquele problema que eu referi anteriormente – o dos nomes em russo. Ao invés de parecerem nomes estranhíssimos que não fazem sentido, viram nomes estranhíssimos (eu continuo achando que não colocaria o nome da minha filha de Stepanida) com alguma lógica, você entende o que é nome, sobrenome, apelido, título e também aprende um pouco sobre a pronúncia. Por exemplo, como eu poderia saber que Kátia, Kátienka, Katiucha e Katka são variaçoes, mais ou menos pejorativas ou carinhosas do mesmo nome, Katerina?
A Felicidade Conjugal foi uma novela que Tolstoi detestou depois de ter entregue ao editor, e é de 1859, quando ele estava com 31 anos (faz parte de sua primeira fase). Apesar de não ser mesmo nenhuma obra-prima, demonstra uma capacidade incrível de narrar a partir do ponto de vista feminino e de desenhar a evolução de uma história de amor, desde as paixonites adolescentes, o casamento, a sensação de unidade com o outro e de dependência total para a felicidade, o distanciamento, a sensação de que o amor morreu, de que nada nunca mais será como antes. Apesar de ser uma visão meio pessimista da vida conjugal em si (como eu não poderia deixar de achar, afinal, sou uma jovem noiva – e portanto tenho que ter um quê de romantismo ainda), acredito que todo mundo que já teve uma relação longa é capaz de se identificar perfeitamente com o rumo da situação do casal protagonista. Afinal, por mais que o amor perdure, a paixão tem seus altos e baixos, e muitas vezes acaba mesmo, sem mais nem menos ou bem aos poucos, praquela pessoa antes idealizada e que agora nos parece real e cheia de defeitos; e no luto por essa perda, se confunde muito o que é paixão e o que é amor, até que se redescubra uma outra coisa imaginária para se apaixonar, seja na pessoa amada, seja em si mesmo, seja nos filhos – e completar de novo aquele espaço vazio.
Como eu prometi que não escreveria mais posts enormes e esse aqui já está bem grande, logo escrevo outro sobre o outro conto e sobre a vida e os ideais do autor, bastante presentes nas entrelhinas da história.
4 comentários:
"Então, há pouco mais de um mês, a Fabi me deu de presente de aniversário (muito pontual, por sinal, já que meu aniversário é em janeiro)"
Hauhauhau...
Presentes que não dependem de data são mais legais =P
Outra obra dele que começa com esse gostinho de "acho que ele vai ficar pra depois" é "A morte de Ivan Ilitch". Mas ela também é dessas que uma hora deslancha... recomendo =)
Quer participar de um "clube do livro"? Você pode recomendar as duas novelas depois =)
Eu li Guerra e Paz entre o final do ano passado e começo deste ano. Achei estremamente bem escrito e com vários trechos que pra mim são simplesmente memoráveis, mesmo na versão traduzida para o português.
Mas é realmente uma leitura cansativa, primeiro pelo estilo do Tolstói, e segundo pelas quase 1500 páginas mesmo.
De qualquer forma, se você gostou de ler estas outras obras dele (não li nenhuma), recomendo que você dê uma segunda chance à principal obra dele.
Aliás, escrevi um post no meu blog sobre o livro e o filme. Se quiser procura lá depois, acho que você encontra fácil pelos marcadores de Literatura e Cinema.
Bjos!
Pois é, não sei direito como fazer com literatura na escola. Lemos os livros obrigados e no mais das vezes ficamos com impressões péssimas sobre a literatura. Na grande maioria dos casos, a gente simplesmente não tem vivência suficiente pra realmente curtir a obra. Já abandonei inúmeros livros, isso não é vergonha alguma, aliás. Pra mim a leitura tem que ser algo prazeiroso, ainda que envolva as suas dificuldades. Bom texto e bom final de semana (que aliás está com sol!).
E aí moça, parou de blogar? :P
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