quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Turma da Mônica

Há um tempinho saiu nas bancas uma revista nova da Turma da Mônica, em estilo mangá. Não fiquei surpresa com o fato a não ser pela demora em aparecer essa versão, porque eu já imaginava comos eria a Turma em mangá há uns 6 ou 7 anos, e o mercado cresceu infinitamente dessa época pra cá.
Ouvi muitas opiniões a respeito do resultado, a maioria de pessoas que não tinham lido e algumas com muito preconceito.
É normal que não nos agrade que mexam nas coisas de que gostamos, principalmente aquelas de quando a gente era criança (a redublagem de De Volta Para o Futuro que o diga). Mas eu sempre gostei da Turma da Mônica, e gostava muito mesmo. Aprendi a ler e a desenhar graças ao Maurío de Sousa, tenho um móvel no meu quarto cheinho de gibis... Aí resolvi dar uma chance a essa nova empreitada, e comprei a revista.

Bom, acontece que é bem bacana. Quando era criança, adorava aquelas histórias em que os personagens apareciam mais velhos, ou com roupas diferentes e o mangá acaba não fugindo muito disso. A Mônica não dá mais coelhada no Cebolinha, que não fala mais elado e nem bola planos infalíveis; a Magali aderiu a uma dieta balanceada e o Cascão, ao banho. Não acho que isso estrague os personagens, mas ainda acho que o Maurício poderia ter sim se utilizado de alguns desses jargões para caracterizar melhor os personagens e criar umas boas piadas.
Mas a dinâmica é mais ou menos a mesma, e apesar dos cenários relativamente mais complexos do que os do antigo Bairro do Limoeiro e do uso (um pouco exagerado) de retículas, o estilo de desenho dos personagens são essencialmente os mesmos. Talvez pra quem não tem muita familiaridade com desenho possa parecer que o traço mudou muito, mas tente dar uma olhada nos personagens secundários, ou nos desenhos dos pais dos protagonistas e verão que os desenhos, simples e com traço grosso, são os mesmos, afinal de contas. A história é ruim em termos de mangá, mas não imagino que se tenha a pretensão de concorrer com os mangás japoneses ou coreanos. Não, me parece mais uma história daquelas mais compridas, a primeira história do gibi, só que com folga, tempo pra ser desenvolvida e aproveitar as possibilidades de piadas e situações que vão aparecendo.
Acho ainda que é um importante passo pros desenhistas daqui, afinal em termos de quadrinhos brasileiros, Maurício de Sousa é a referência, e apesar de o negócio de quadrinhos andar meio a trancos e barrancos, os gibis estão lá, na banca. É interessante ter um mangá nacional, que pode ser um precedente importante a oportunidades que venham a se descortinar para tantos desenhistas tão bons que eu vejo por aí e que dificilmente passariam das feiras de fanzine por falta de um mercado. Será que é sonhar demais?

Enfim, achei o mangá bem divertido, descomprometido e ousado, tem umas piadas muito boas e a história é bem nonsense. O estilo ainda tem muito o que crescer e eu pretendo acompanhar esse crescimento, comprando a revista todo mês (afinal, considerando os preços dos mangás convencionais e dos próprios gibizinhos fininhos da Turma da Mônica, o preço está bacana; e lá em casa, todo mundo curtiu a novidade).

Se alguém quiser dar uma conferida no Volume 0, que foi dado de brinde em eventos por aí, é só baixar no link: http://rapidshare.com/files/136891303/MJ00.zip

Ah, e um videozinho trash que não tem nada a ver com o mangá... ^_^

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Olhar para os lados

Ultimamente eu estou com muito azar.

Sabe quando tudo dá errado naquelas coisinhas que dependiam um mínimo do destino, tipo o ônibus sair adiantado e você não conseguir pegar, uma prova desgraçada que não cai nada do que você estudou, a internet não estar funcionando, esquecer uma comida supergostosa fora da geladeira e não ter nada pra almoçar porque azedou... Sem falar no gerente do banco que quer atrasar minha vida, do dia em que fui no bandejão esperando steak e tinha kibe, das duas vezes que eu tentei ir ao teatro e não consegui ver a peça, ou de pegar uma carona e ter que ir espremida com mais três desconhecidos no banco de trás de um celta.

Enfim, todas as coisinhas que parecem ínfimas e que vão se juntando numa bola de neve no decorrer das semanas e que, junto com o baque de voltar a uma rotina estressante, saindo de casa 7h45 e chegando a voltar 23h15, como foi o caso ontem, tendo aulas ininterruptamente, acabam provocando uma avalanche de fato.

Nesses dias em que eu tenho vontade de gritar e espernear porque não pode ser que tudo está dando tão errado, eu tento parar, pensar e olhar para os lados.

Claro que num dia-a-dia de estar sempre no hospital, vendo o aspecto de maior fragilidade das pessoas, não fica difícil concluir que os meus problemas, comparados com os dos outros, não são nem problemas. Mas esse é um jeito meio pessimista de ser otimista; quer dizer, enxergar a desgraça do outro pra concluir que eu sou feliz, ou que eu poderia ser muito mais desgraçada mas graças a Deus não sou me parece um jeito meio frio e triste de se livrar dos problemas. Aliás, dizem que é por isso que junta tanta gente em volta de acidente ou gente morta na rua, porque a desgraça alheia nos é agradável, não tem jeito melhor de reafirmar que estamos vivos do que ao nos contrapormos a alguém que está morto, ali na nossa frente.

Mas sejamos mais otimistas. Quando eu digo "olhar para os lados" estou pensando em minimizar os nossos problemas em relação às coisas boas, não deixarmos de valorizá-los porque há outros problemas maiores, mas sim porque só nós os valorizamos e isso não faz diferença pra ninguém além de nós mesmos. Apesar de termos a nítida impressão de que somos personagens principais do Mundo e todo o resto é coadjuvante, não dá pra esquecer de que não estamos no Show de Truman. Os lugares não passam a existir de verdade só porque fomos lá e as pessoas não estão passando pela rua só pra dar mais verossimilhança ao nosso passeio.

Olhar para os lados é ver que os ipês se enfileiram floridos e as amoras dão de monte nessa época do ano, inexoravelmente. É poder apreciar, uma coruja austera que levanta vôo de cima do fio de eletricidade e depois dá um rasante, provavelmente alheia à sua própria beleza. Pensar que se eu não tivesse perdido o ônibus e voltado à pé, provavelmente não teria visto a coruja que acabou, em última análise, inspirando esse post.

E vou usar de novo essa palavra de que eu gosto tanto, que tem uma sonoridade ao mesmo tempo bonita e apreensiva, assim como seu significado que capta tão bem a essência desse mundo, desse mundo que às vezes me faz sentir tão insignificante, desse mundo inexorável.


domingo, 17 de agosto de 2008

E viva o Espírito Olímpico!

Sei que esse post está meio atrasado (semana passada foi f***), mas quando eu cheguei em casa no outro sábado, a minha mãe me disse "Você viua guerra?" e eu, muito surpresa, perguntei "Que guerra??"
Tudo bem que ultimamente eu estou meio sem tempo, vendo menos jornl que o normal, mas não ficar sabendo de um guerra?
Aí eu comecei a ver o jornal na semana seguinte e entendi que, a não ser que eu realmente estivesse interessada no assunto, ficaria meio difícil de ficar sabendo que a Rússia estava bombardeando a Geórgia. Afinal, no dia que eu estava vendo, nos primeiros 40 minutos do jornal (não é brincadeira, foram QUATRO blocos), ficaram falando sobre as Olimpíadas.
OK, toda Olimpíada é assim, não se fala de outra coisa e tal, mas quando tem algo "um pouquinho" mais relevante acontecendo no mundo, acho que a atitude não deveria ser tão displicente.
Engraçado é que sempre que vemos filmes sobre guerra, ou discutimos o assunto (como por exemplo no caso dos Hutus e Tutsi), sempre se levanta a questão da omissão internacional, que poderia ajudar a resolver, ou acelerar a resolução do caso. Não preciso ser muito ligada em política pra perceber que pra Rússia foi oportuno esse momento em que as atenções internacionais estão voltadas pra China; mas o que poderia ter acontecido - e que teria sido realmente lindo - seria o feitiço ter virado contra o feiticeiro. Assim: era só parar os jogos. Pronto, um protesto mundial pela paz. Parasse tudo, ou então proibisse participação de qualquer atleta da Rússia ou da Geórgia enquanto o assunto não estivesse resolvido.
Mas não, eu estava lá, vendo o jornal nacional esperando aparecer alguma coisa sobre a guerra que até então eu não tinha ouvido falar e jajá ouvi "... nesse doloroso confronto contra a Rússia, já que são inimigos de tantos anos", virei pra olhar... e era só o vôlei.

domingo, 10 de agosto de 2008

Literatura nas Escolas

Acho que o ensino de Literatura nas escolas é uma droga.
A grande maioria das pessoas não lê o livros e muitos dos que leêm não gostam.
Como acontece: a tia Marocas ensina Literatura usando basicamente a ordem cronológica; ensina aquela Escola Literária, os autores de Língua Portuguesa importantes naquele contexto e as obras mais importantes. Escolhe a que ela acha mais relevante - ou a que a Fuvest acha - e manda os alunos lerem, e na prova cobra tudo isso do aluno.
A coisa já começa não dando certo, porque a maioria das escolas começa a ensinar Literatura no 1º ano do Ensino Médio, quando os alunos têm 14 ou 15 anos. E, pela ordem histórica, querem nos ensinar Trovadorismo, Humanismo, Classissismo... um monte de chatices que dão uma primeira má impressão à maioria das pessoas. Aí, a tia Marocas quer que você leia Os Lusíadas, mas como ela tem (o mínimo de) bom senso, sabe que os seres iluminados de 15 anos não têm capacidade de ler e entender um livro desses e manda você ler a bendita versão adaptada, daquelas da Série Reencontro, que só conta a história do livro - que, no caso dos Lusíadas, é MUITO chata. E por aí vai, temos que ler Alencar, Eça de Queiroz, Camilo Castelo Branco e um monte de outros chatos que não nos dizem nada. Claro, às vezes tiramos alguma coisa boa dos livros, conhecemos autores bons e aprendemos coisas novas. Não vou dizer que eu não admire Os Lusíadas e toda aquela maluquice de versos decassílabos, mas até hoje não tive saco pra ler tudo. (O Camilo Castelo Branco sim, eu já li, e não recomendo nem pro meu pior inimigo!)
Outra coisa que acho péssima é que a Literatura que aprendemos é exclusivamente de Língua Portuguesa, deixando-nos com a impressão de que antes dos trovadores ou de Camões, ninguém nunca escreveu nada que valesse a pena ser lido, e que durante os movimentos literários, os brasileiros e portugueses sofreram diversas influências, mas não sabemos diretamente de quem, de onde ou por quê.
Acho que é importante ensinar Literatura, mas acho que do jeito que é feito, o prejuízo causado pode ser maior que os possíveis benefícios a uma parcela dos alunos. Acho que já disse isso, mas a minha tia Marocas da 8ª série me mandou ler Esaú e Jacó e quase me fez odiar Machado de Assis, simplesmente porque eu não tinha maturidade pra ler aquele livro. Ela mandou a gente ler O Quinze, da Rachel de Queiroz também, e eu nunca superei esse trauma (nunca tentei ler de novo). Se eu, que sempre gostei de ler e sempre li muito quase morri, imagina aqueles que penavam pra ler Pedro Bandeira nos anos anteriores!
Mas a tia Érika, se fosse professora de Literatura faria tudo diferente. Acho que seria legal se as Escolas Literárias fossem ensinadas sim, e explicadas com base em textos, em pedaços de obras de autores importantes, em exemplos, e não necessariamente em livros inteiros. E acho que isso devia ser ensinado de forma contextualizada, com os autores importantes de outras línguas, e não só do português. Por que fingir que não existiram Sófocles, Homero, Virgílio, Dante Alighieri, Cervantes, Goethe, Baudelaire, Oscar Wilde, Dostoiévski, Tolstói, Mark Twain e Charles Dickens, só como exemplos?
Aí o aluno escolhe o que ele quer ler, só o que ele quiser. Aqueles alunos mais nerds, que aprovaitam o ensino de Literatura do jeito que é, provavelmente escolhem um dos livros da lista de sugestões do professor, que são relevantes praquele período literário estudado. Os que não tiverem interesse nenhum em ler um desses livros, ou simplesmente estiverem com preguiça ou com muitas outras coisas pra fazer, podem escolher QUALQUER livro, até um daqueles da Série Vaga-lume ou um Harry Potter, só tem que ler um livro aquele mês. Aí o professor pode pedir um trabalho sobre o livro, pedindo por exemplo pro aluno identificar um trecho que tenha a ver com alguma característica de alguma escola literária que já estudaram, ou mesmo não pedir nada, só o nome do livro que está lendo, por que escolheu aquele e o que mais gostou. O número de um livro por mês também pode ser negociável, pra estimular a leitura de livros mais grossos (por exemplo, se você quiser ler um livro com mais de 250 páginas, pode levar 2 meses e assim por diante).
Eu provavelment nunca vou dar aula de Literatura na vida, claro que não sei se nada disso que eu disse daria certo, mas, considerando que do jeito atual não dá certo pra maioria, talvez fosse interessante tentar (né, Fabi?).
Conheci muitos livros bons quando estudava Literatura, e gosatava muito dos livros (nem tanto das aulas). Mas eu tirei 4,5 no bimestre do Trovadorismo, e continuo achando um desaforo mandar alunos de 16 ou 17 anos lerem Guimarães Rosa, pelo menos eu acho que ele está num nível que transcende muito o meu, mesmo hoje em dia.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Conjecturas de volta às aulas


Começo de semestre é terrível.
Queria postar nesse blog todo dia, nem que fosse um vídeo ou uma charge legais, mas agora que as aulas começaram pra valer - e põe pra valer nisso, porque estou estudando 40 horas semanais fora Iniciação Científica e os professores não estão pegando muito leve - , acho que vai ficar um pouco inviável.
Abri mão de pegar matérias de noite pra ter um pouco mais de tempo pra mim, pros meus livros que costumavam ficar aposentados até as férias e pra estudar um pouco, mas esse tempo parece que não dura nada! Hoje, por exemplo, vi a novela, lavei louça, estudei um caso clínico pra amanhã, estou escrevendo no meu blog e... já é mais de 1h da manhã e eu nem jantei!
Assim não dá, nas férias os dias duravam infinitamente mais. Só que, uma contradição meio óbvia, as semanas de férias passam bem mais rápido que essas aqui em Campinas.
Independentemente da minha depressão costumeira que aparece todo começo e fim de semestre, estou relativamente otimista, e apesar da perspectiva de passar mal no hospital todo dia de manhã, acho que vou aprender bastante Clínica esse semestre.
Quem sabe isso me ajuda a tirar as dúvidas de todo mundo que vem perguntar coisas sobre as quais eu não faço nem idéia (mas sou muito boa de inventar respostas, senão não tinha passado no vestibular com o que eu sabia de História e Geografia).
Enfim, esse tópico não fez sentido nenhum e acho que eu vou dormir, senão não vai adiantar nada ter estudado o caso clínico e dormir na discussão amanhã cedo.
Ah, e a tirinha do Calvin expressa bem os meus dilemas universitários - e melhor ainda a minha conduta de sempre optar por vagabundear e ficar vendo porcarias no youtube ou jogando qualquer coisa nas vésperas de prova.

domingo, 3 de agosto de 2008

"A ave sai do ovo. O ovo é o mundo. Quem quiser nascer tem que destruir um mundo."

Anteontem eu terminei de ler, às 3h da manhã, o livro Demian, de Herman Hesse.
É um livro incrível, que apesar de seu conteúdo denso apresenta, na medida no possível, uma leitura bem fluida. Não insere-se, de forma alguma, na categoria de livros que contam histórias, como os que citei no post "por que não ler só por ler?", pois apesar de conter uma história interessante, e, a partir de certo ponto até mesmo fantástica, isso é o menos importante e o livro apresenta muito conteúdo artístico, literário e (talvez principalmente) filosófico.
Pertence a um gênero conhecido como "Bildungsroman" (algo como 'romance de formação' em Alemão), no qual o autor apresenta a formação da personalidade psicológica, moral e social do protagonista, geralmente jovem.
Se tem uma coisa que aprendi no meu curso de Literatura e Psicanálise semestre passado foi a sempre pesquisar sobre o autor antes de começar a ler um livro seu. Pois bem, nesse caso é quase impossível negar o caráter auto-biográfico do livro.

Herman Hesse nasceu na Alemanha, em 1877, filho de missionários prostestantes que queriam que o filho seguisse o mesmo caminho pelo Cristianismo. Ele, entretanto, abandonou o seminário e foi para a Suíça, onde naturalizou-se, trabalhando em livrarias e posteriormente escrevendo seus romances. Viajou para a Índia em 1911 onde teve contato com o Budismo; também conheceu Jung e suas teorias psicanalíticas. Chegou a tentar o suicídio. Teve bom reconhecimento literário, e a partir de algumas publicações de sucesso passou a viver de escrever. Colocou-se contra a guerra e contra o patriotismo, sendo muito condenado pelo povo alemão. Ganhou o Nobel de Literatura em 1946 por "Jogo das Contas de Vidro" e morreu em 1962.
Além de muitos desses acontecimentos em rumo à maturidade - o rompimento com o mundo paterno para encontrar a si mesmo, o encontro com a espiritualidade - serem muito próximos entre a história do protagonista e a do próprio Hesse, ele publicou Demian sob o pseudônimo de Emile Sinclair, nome do protagonista tirado, segundo o autor, de um amigo por quem tinha grande admiração.
É difícil resumir a história do livro sem spoilers, apesar de eu achar que isso é o de menos; por exemplo, se você viu uma daquelas palestras de vestibular ou leu o resumo de Memórias Póstumas ou Macunaíma, isso não deve diminuir o prazer da leitura, certo?
Bem, o livro apresenta-nos uma trajetória de uma criança tornando-se homem, num caminho cheio de sofrimeno, rupturas e simbolismos. O próprio Sinclair identifica um "mundo luminoso e reto", ideal, de dentro de sua casa, com seus pais e irmãs perfeitamente virtuosos; o mundo lá fora é o mundo proibido, obscuro, misterioso e cruel. Sinclair entra em contato com esse mundo ao ser extorquido por um garoto da escola pública, e, mais tarde, ao travar uma conversa decisiva com Demian, um aluno mais velho, que parece apresentar em seu rosto um aspecto sábio e atemporal, oferecendo-lhe outra interpretação para a história bíblica de Caim e Abel. A substituição da contraposição entre o Mal e o Bem pela entre o Forte e o Fraco, o Corajoso e o 'Cordeiro' perpetuará na história como metáfora que culminará na busca do conhecimento por si mesmo e na substituição da Moral do mundo luminoso pela Ética, que deve ser pessoal e pura, seguida estreitamente e determinante da própria condição de Homem.
Demian acaba sendo o alter-ego de Sinclair, seu ideal e seu ídolo, pertencendo claramente ao mundo das sombras - e a dualidade entre os dois mundos, o ideal e o real, o em que Sinclair se insere e o a que ele quer pertencer acaba tranferindo-se à síntese representada por "Abraxas", a divindade que reúne em si o Deus e o Demônio, o Bem e o Mal.

Interessante é que isso parece estar presente no Magnum Opus (algo como Grande Trabalho) na Alquimia, que se refere à transformação de metais em ouro e à produção da Pedra Filosofal (que são metáforas para o próprio crescimento pessoal e busca da essência humana), e tem três estágios:
* nigredo(-putrefactio): individuação, purificação, remoção completa das impurezas;
* albedo, branqueamento: espiritualização, iluminação;
* rubedo: unificação do homem gom deus, unificação do limitado com o ilimitado.


Certamente esse seria um livro bem mais aproveitado se eu tivesse mais conhecimentos sobre filosofia, teologia, psicanálise junguiana ou alquimia. Entretanto, acredito que qualquer indivíduo pensante vai apreciar muito a leitura de qualquer forma, e a Wikipédia também pode ser uma boa fonte de conheimentos limitados, porém instantâneos, sendo um bom pontapé inicial. Eu também gostaria muito de discutir algumas das metáforas e idéias apresentadas no livro, em passagens mais específicas, então quem já leu ou futuramente venha a ler, por favor, venha conversar comigo!

sábado, 2 de agosto de 2008

Citações

Ontem eu terminei de ler um livro fantástico.
Comecei a escrever uma resenha sobre ele, mas resolvi que era imprescindível colocar aqui alguns trechos do livro, porque enquanto lia, comecei a ter uma grande coceira mental, e simplesmente não conseguiria continuar lendo se não pegasse uma folha de papel e anotasse alguns parágrafos (ou pelo menos a página em que estavam pra eu lembrar depois). E foi o que eu fiz (de madrugada, anotando trechos e tentando fazer correlações simbólicas e psicanalíticas debaixo do edredom).
Como as citações são um pouco grandes, porque têm uma linha de pensamento e tudo, decidi não colocá-las junto com a resenha, que eu já acho que vai ficar grandinha, porque senão ninguém teria coragem de ler.
Então não vou colocar nada sobre o livro (ok, seu estraga prazeres, a transcrição é literal, então você pode procurar um pedaço no google), e a resenha só sai amanhã, aqui nesse mesmo horário e nesse mesmo canal.
Mas com certeza, por aqui já dá pra ter muito mais vontade de ler o livro do que por qualquer coisa que eu possa dizer a seu respeito. Então aí vai...

“— Sei o que vais dizer-me — continuou resignado. — Sempre tropeçamos com isso! Mas ouve-me ainda um momento: este é um dos pontos em que se vê mais claramente os defeitos da religião. Esse Deus da antiga e da nova Aliança é, antes de tudo, uma figura extraordinária, mas não o que realmente deveria ser. Representa o bom, o nobre, o paternal, o belo e também o elevado e o sentimental... está bem! Mas o mundo se compõe também de outras coisas. E todas essas coisas são simplesmente atribuídas ao Diabo; toda essa parte do mundo, toda essa outra metade é encoberta e silenciada. Glorifica-se a Deus como o Pai de toda a vida, ao mesmo tempo em que se oculta e se silencia a vida sexual, fonte e substrato da própria vida, declarando a pecado e obra do Demônio. Não faço a menor objeção a que se adore esse Deus Jeová. Mas creio que devemos adorar e santificar o mundo inteiro em sua plenitude total e não apenas essa metade oficial, artificialmente dissociada. Portanto, ao lado do culto de Deus devíamos celebrar o culto do Demônio. Isto seria o certo. Ou mesmo criar um deus que integrasse em si também o demônio e diante do qual não tivéssemos que cerrar os olhos para não ver as coisas mais naturais do mundo.”

“— Falamos em demasia — disse ele com gravidade desacostumada. — As palavras engenhosas não têm qualquer valor, absolutamente nenhum. Só conseguem afastar-nos de nós mesmos. E afastar-se de si mesmo é um pecado. É preciso que se saiba encerrar-se em si mesmo, como a tartaruga.”

“Ainda me lembro como as lágrimas me saltaram aos olhos ao sair do café num domingo pela manhã e ver uns meninos que brincavam pela rua, radiantes, limpos, bem penteados e com roupas domingueiras. Assim, enquanto divertia meus amigos e às vezes os assustava com meu incrível cinismo, entre risos bêbados, diante das mesas sujas dos cafés de baixa categoria, conservava em meu coração um respeito oculto por tudo aquilo que conspurcava com meus ditos, e em meu interior permanecia ajoelhado e chorando diante de minha alma, diante do passado, diante de minha mãe e diante de Deus.”

“— Sempre achamos que são demasiadamente estreitos os limites de nossa personalidade! Atribuímos à nossa pessoa somente aquilo que distinguimos como individual e divergente. Mas cada um de nós é um ser total do mundo, e da mesma forma como o corpo integra toda a trajetória da evolução, remontando ao peixe e mesmo a antes, levamos em nossa alma tudo o quanto desde o princípio está vivendo na alma dos homens. Todos os deuses e todos os demônios que já existiram, quer entre os gregos, os chineses ou os cafres, todos estão conosco, todos estão presentes, como possibilidades, desejos ou caminhos. Se toda a humanidade perecesse, com exceção de uma só criança medianamente dotada, esse menino sobrevivente tornaria a encontrar o curso das coisas e poderia criar tudo de novo: deuses, demônios e paraísos, mandamentos e proibições, antigos e novos Testamentos.

— Pois bem — objetei-lhe. — Mas que fim leva o valor do indivíduo? Para que aspiramos a algo se já temos tudo concluído em nós mesmos?

— Alto lá! — exclamou Pistórius com força. — Há muita diferença entre levarmos simplesmente o mundo em nós mesmos e conhecê-lo. Um louco pode expor idéias que lembrem as de Platão e um colegial devoto pode criar em sua imaginação profundas conexões mitológicas que aparecem nas doutrinas dos gnósticos ou de Zoroastro. Mas sem sabê-lo! E enquanto não sabe, é uma árvore ou uma pedra, ou quando muito um animalzinho. Não creio que se possam considerar homens todos esses bípedes que caminham pelas ruas, simplesmente porque andam eretos ou levem nove meses para vir à luz. Sabes muito bem que muitos deles não passam de peixes ou de ovelhas, vermes ou sanguessugas, formigas ou vespas. Todos eles revelam possibilidades de chegar a ser homens, mas só quando vislumbram e aprendem a levá-las em parte à sua consciência é que se pode dizer que possuem uma...”

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Gatos

Outro dia eu li uma reportagem sobre gatos na revista Seleções, e a autora dizia que quem não gosta de gatos é porque não compreende - e provavelmente não tem em si - o espírito de liberdade que define esses bichinhos.
Porque realmente, não importa o quanto eles gostem de uma boa almofada ou, sem cerimônia, esfreguem-se em nossas pernas pedindo comida, parece que a liberdade mora dentro deles, e sua personalidade e independência não podem ser moldadas.
Acho que todo mundo que tem um gato vai se identificar com esse vídeo - pelo menos os gatos que eu conheço fazem igualzinho - sempre conseguindo, de um jeito ou de outro, o que querem de seus donos. Aliás, com os gatos nunca é muito certo afirmar quem é dono de quem, não é mesmo?

Ah, agradecimentos especiais nesse post:
ao Douglas, que me ensinou a colocar o vídeo do youtube no post;
e à Sheila, que me mandou o vídeo! =)